21.3.13

Fardo de algodão




Hoje ouvi uma estória tão triste que meu coração ficou amolengado. Assim escorrendo pelos cantos, com um chorinho miúdo. E como quem sente o peito explodir, transbordei em palavras.
Isso tudo
porque
Certa vez encontrei uma menina com ares de céu. Quando a gente mirava bem pra cara dela, a gente mergulhava num paraíso qualquer e ficava espantado. Era um susto daqueles, com a suavidade daqueles olhos enormes, daqueles cílios longuíssimos. Dança na ponta dos pés, bem na ponta dos pés e veste seus pensamentos com risadas.
Bonitinha. Aquele mimo de gente, aquela pessoa feita de brisa. Ela é assim uma florzinha. Parece um amanhecer calmo. Escandalosamente colorido. Tons de rosa e amarelo. Ela tem azul. Ela é erva doce. Ela é  cambalhota. Levita assim.

Só que ela vive pesada, ultimamente. Encasquetou que fardo de algodão é sempre leve. E não percebe. Não vê a armadilha da maciez. E acaba que tudo machuca. A flor corta, o beijo mata e as promessas apodrecem. E ela fica sem entender. Ela que tem tanto amor. Ela que. Ela que quer. Que quer tanto amor. Tanto ah, mar. Uma Oceania por completo ela tem, ela quer.

E de repente tinha tudo. Alegria e futuro. Mas sem mais não resta nada. E ela fica flutuando. E o vazio se espalha pelo espaço e o coração dela acaba se desmantelando. E ela chora. Porque ela não tem mais forças. Não vida. Assim você sufoca. Algodão por todos os lados e nada faz dissipar essa onda morna de sofrimento. Essa desilusão de delírios. Perecerão.
Isso tudo
porquê
Minha vontade é colocar uma espada na mão dela. E queimar aquele algodão todinho. Transforma-la numa ninja sagaz. Ou melhor. Que ela se transmute num gigante poderoso, que peidasse na cara de todos os bandidos. Daí eles vomitassem. Aí também eles iriam ser obrigados e comer fandangos de queijo pro resto da vida. E ela feliz. Num mundo que pudesse comer de tudo e não engordasse. Que os livros fossem de chocolate. E que Floranópolis fosse do lado de Paris, do lado de Niterói, e que ela morasse por lá. E que ela pudesse se reinventar. E que mandasse chupar meia suja quem dissesse que sonhos não são reais.

Eis que vos digo: fardos são sempre fardos. Sejam eles doces ou macios.

Que o vão
em paz
se vá,
meu amor.

14.3.13

José pinguim


Eu que não amo você.

Uma página em branco. Para eu tatear aquilo que sinto. Letra por letra. Cuspe por cuspe.

Meu bem, ah, meu bem. Não se preocupe em ficar invisível, há tempos que eu não lhe vejo. Ah, chuchuzinho, não fique assim ensimesmado. Nada de mal vai acontecer, um chute no seu traseiro não é assim uma má notícia. Veja que é um pontapé simbólico. Eu montei em mim mesma e estou aqui galopando nas minhas ideias. Uma pessoa indigna de vernáculos. Veja que nem nada você é. Eu, benzinho, não amo você.

Certo dia, cruzei as minhas pernas, coloquei meus óculos emocionais e vi que meus sentimentos estavam cheios de fissuras e verrugas nojentissímas. Passei limão. Comprei pomada de melão asiático. Mel fervente. Gengibre em gotas. Mas não dei conta de curar essa porqueira toda.

Pinguinho. Zé pinguinho. Ama em gotinha. Tadinho, não sabe jorrar.

Por isso, lhe digo agora: passar bem. Estou a meter o pé. Como um defunto corriqueiro: passando dessa para melhor.