30.6.09

Lamparinas musculosas

Venha, experimente e pense no mais belo do mundo, ainda assim.
Venha, experimente e coma o mais gostoso que há, ainda assim.
Venha, experimente e ria do mais engraçado que existe, ainda assim.

Não saberia o quão esplêndido ele é. Ê! Esse rapaz tem olhos de candura. Ah! Voz de doce de leite. Mas. Mãos macias como farinha de trigo.
É informal, esse menino-enorme.
Sua risada desconstrói muralhas e suas piadas inventadas gargalham.

Ele é um rodopio de criança. Como a delícia de biscoito recheado, mais lindo do que o gato da praia.

Com óculos ou sem olhos, ele vê
Com dentes ou sem boca, ele ri
Com voz ou mudez, me conta

Ele é um eterno ponderar, inacreditável des-saber.
Escreve colorido na gente, dignifica os olhos de todos.
E sem parar nem pôr, fecho o ensaio com a seguinte resenha: ele é todo músculo, força e poder.

Bem que é. Sei que sim.
Meu. Irmão.

23.6.09

Percurso

O tempo suga para trás, tenta nos puxar.
A inércia é uma sensação de volta.
Quando percorremos, é um desprender, sacolejar, um livrar de braços. E nos desviamos e algo nos retém e nos lançamos totalmente para frente, tentando cortar os elásticos que nos prendem ao passado.
E nos despimos, fincamos as unhas no solo e nos arrastamos nus metro a metro, para seguir em frente. É uma queda horizontal que nos leva ao que já foi. Como um grito no meio do silêncio desde sempre. Brado. Guturalmente.
Espanto fantasmas, demônios, fracassos.
Proclamo ao Deus Altíssimo, vou por entre árvores, rente ao chão, colado no peito.
Sem distância de tudo. Rastejo-me a diante. Rasgando o impossível.
Dentes trincados, força, suor. Movimento lento e majestoso. Sou eu girando planetas.
Piso profundo e com a resolução de um mito.
Estabeço-me na realidade, digo: existo!
Até que a resistência fica mais fraca que eu. Venço, ofegante, boca entreaberta, corpo firme.
Sou quem chegou. Quem enfrentou a escuridão, lanhei o inatingível.
Sou eu, quem escreve e que hoje carrega medalhas por vencer mortes e pesares.
Meu caminho é prosseguir.

20.6.09

Caso de sumida

Há um boato, já bem comprovado, da desaparição de uma mulher inteira. Seu nome já indica mau presságio: Sumida. O nome.

Apalpando o começo disso tudo, descobri:

Sumida era moça em vias de se formar mulher. Tinha idade de gente jovem. Tinha cabelo grande, olho aberto, mãos enormes. Era também toda castanha, menos a pele, porque se alvoreceu desde muito e hoje vive como ontem. Branca. Queria ser castanha toda, até a pele (menos os dentes).

Sumida era pessoa de coração e veias. Sente e transmite. Tum Tum. Sente e transmite.

E numa quarta-feira, durante uma transfusão de sangue, descobriu que lhe faltava um cílio.
Foi como iniciou.

Eu que sou contadora sinistra, alisei as razões e descobri a causa: Mágoa.

Explico, para desafogar sua curiosidade. Toda vez que Sumida se sentida triste: Zim. Sumia-se. Mas reaparecia logo, conforme a gravidade do sentimento. Uma vez, porém, foi tão violento que quando reapareceu, faltou-lhe uma mecha de cabelo. E mecha gorda. A solução foi a dos calvos-de-um-lado-só: jogou o cabelo pro lado e ficou disfarçado. Se passasse vento, mostrava.

Houve uma época, isso já coisa íntima, houve uma época em que a garota andava meio apaixonada. Todos são sabedores que trâmites amorosos põem tudo a perigo. Sobreveio uma dúvida no coração de Sumida: "será que era amada/gostada/querida por Tudão?".


Tudão era gente fina. No entanto, gente-homem, daqueles meio trancados que que gotejam uma ou outra flor. E sem flores não há como saber de nada.

Foi um tempo de angústia, um sufoco daqueles. E de tanto sumiço, Sumida acabava desmaiando, nervosa. Por estar tão ausente.

O reboliço não acaba por aqui não. Tudão planava e Sumida sem saber se ele pousava ou percorria outros ares.

Arrumados os motivos, trombei com o fim.

Foi em dia de primavera que Tudão decidiu que tinha coração. E repleto. De amor. Por mistério ou fofoca, leu o início dessa estória e viu a precisão de flores.

Lido e instruído, foi o matador de todos os pavores de Sumida. Comprou um campo e o floresceu. Narcisos, rosas, aos milhares e de infinita beleza. Assim, pensou, já se dizia alguma coisa e o resto falou de boca mesmo.

Sumida destinatária desse amor, desapareceu inteira, hoje lhe chamam Prendinha. Tudão ficou Fluído. Retomaram o paraíso e se tornaram riacho.

É assim que foi e é assim que é.

19.6.09

Caminho

Será glorioso o caminho do mar e serão de nuvens as pontes entre os rios.
Louve-se! Ao Deus Supremo e extremoso, poderoso e exaltado seja. Que as bocas proclamem paz infinita e que respiremos Sua Luz. Deus transtorna o mal e reafirma o bem. Consome nossos medos e constrói-nos seguros. Deus de leve como pluma me faz ventaniar tranquilidade.
Mesmo quando meus olhos são fechados pela escuridão e a dor toma conta dos meus sentidos. Mesmo quando meus sonhos pendem informes e desesperançados. Mesmo com a morte de tudo o que vive em mim. Ainda há uma chama. Uma picada. Uma redenção calma e divina.
Dança suave do celeste em mim. Passos macios sobre o céu.
O justo está confiado como um filho de leão. Intrépido. Forte.

Com desastres e guerras sem fim, reina a paz infinita e glorioso e inenarrável caminho para o mar. Desde o começo e para sempre.

13.6.09

Inter

Intergaláctico
Internauta
Interpela
Interfase

Entre

Inter.agindo. Interino.
Nessa fome de Deus, que almocemos o outro. E nessa dança doce, contaminemos o próximo.

E indo nos vamos, intercambiando. Inter.cabendo.

Que façamos uma mesma prece, falando assim:

Que entre nós escorra amor
até que transbordemos todos os potes
e enchamos o mundo

Que entre nós haja tanta ternura
que nos transformemos todos em sorrisos:
sementes de paz, fagulhas de luz

E que haja tanto céu em nosso peito.
E que haja tanto Jesus em nossos olhos.
E que haja tanto suspiro de alegria.

De maneira a vermos interfaces convertidas
Interesses tranformados
Interesperança mútua.

Que deixemos Jesus ser o redentor
E a salvação ser completa
Sem pesares, nem sonecas, nem desastres

Que decididamente vejamos o Cristo brilhar
Iluminando a pobres pecadores
Nós. Eles. Ambos.

Que sejamos maioria
Mesmo que em menor número
Andemos dados às mãos
Unidos. Bonitos. Louvantes

Que todo desespero seja extirpado
E que haja enxerto:
De força e tranqüilidade

Interação tua em nós. InterDeus.
Entre nós. Entre, Deus.