23.6.09

Percurso

O tempo suga para trás, tenta nos puxar.
A inércia é uma sensação de volta.
Quando percorremos, é um desprender, sacolejar, um livrar de braços. E nos desviamos e algo nos retém e nos lançamos totalmente para frente, tentando cortar os elásticos que nos prendem ao passado.
E nos despimos, fincamos as unhas no solo e nos arrastamos nus metro a metro, para seguir em frente. É uma queda horizontal que nos leva ao que já foi. Como um grito no meio do silêncio desde sempre. Brado. Guturalmente.
Espanto fantasmas, demônios, fracassos.
Proclamo ao Deus Altíssimo, vou por entre árvores, rente ao chão, colado no peito.
Sem distância de tudo. Rastejo-me a diante. Rasgando o impossível.
Dentes trincados, força, suor. Movimento lento e majestoso. Sou eu girando planetas.
Piso profundo e com a resolução de um mito.
Estabeço-me na realidade, digo: existo!
Até que a resistência fica mais fraca que eu. Venço, ofegante, boca entreaberta, corpo firme.
Sou quem chegou. Quem enfrentou a escuridão, lanhei o inatingível.
Sou eu, quem escreve e que hoje carrega medalhas por vencer mortes e pesares.
Meu caminho é prosseguir.

2 comentários:

Miguel Del Castillo disse...

"meu caminho é prosseguir"
ser andarilho

muá!

Unknown disse...

"E nos despimos, fincamos as unhas no solo e nos arrastamos nus metro a metro, para seguir em frente."

nus, diariamente.