30.3.09

Pá, pá

Andando, virando mil rodas de estrelas e cânticos jubilosos.
Amor de névoas, de nuvens tão lindas
E é vento no rosto
pulo de leveza
E a gente corre, desconcerta e vive morrendo de vontade de ser
Mas ninguém sabe
Todos ignoram a vontade de transmutar-se para outro tipo de ser que possa explodir sempre que haja muito luto
E a gente luta, briga, anda por túneis, cava uma vida inteira
Faz coroa de pétalas
Nuveando
Matando nossas mortes diárias
Acreditando em amores vindouros perfeitos
Infundíveis com a tristeza
Fantasiados de delícias
Vestidos de doçura
Com voz macia e música pelos pêlos
Caminha, saltando, correndo, sorrindo por estar
E vai para um lado
joga para o outro
Balanço do som
Nublado, chuva, chuva
Medo, frio, escuro. Solidão. Vertigem
Sol, arco-íris
Beleza. Beleza
Alívio.
Tirando os agasalhos, o inverno passou, é tempo de flores
E eu vou, germinando no mundo
E eu canto
Eu luto por vidas alheias e minhas
E luto por sonhos tão puros e bons.
Sem que nada se perca
Sem que nada se esvazie. Sem que tudo me extrapole
Sem desistir de não caber no mundo
E eu ponho óculos pra ver o sol E escovo os dentes para comer pedras.
Nada se sabe.

29.3.09

Poesia

Você andou me perguntando quando iremos gritar poesias e lhe digo: Agora e para sempre! Para os oito cantos do Universo e por toda eternidade brademos com força: Cristo vive e reina em nós.
Aleluia, pois cantemos.

Alma bonita e flutuante. Deus macio e de paz bondosa.
Remissão da podridão que fomos.

Vamos cantar poesias: pouso perene de Deus em nosso peito.

16.3.09

Há porquê

Borboletas?
Sim há.
Coloridas.
Muitas delas.

Há fascínio? Sim, há.
Colorido, muito dele.

E beleza?
Sim, há.
E distâncias, muitas vezes.

Esperança.
Sim, porque.
Tantas cores em meu peito.

5.3.09

Perdoem-me os obstetras

Ninguém nasce sabendo de onde sai. Se fosse o caso, ficaríamos horrorizados.
Para disfarçar, o médico nos tira logo de lá, nos puxa de ponta cabeça, como quem diz: " esquece, esquece". Tapa na bunda para ajudar na superação. Peito com leite. Choro de mãe. E é assim que se nasce, meio que no susto.
Depois passa o tempo, a criança vira mulher ou homem -as duas coisas, quem sabe - todos crescidos. O nascimento se torna acontecimento remoto.
As mulheres se enfeitam com jóias, calçam sapatos altíssimos, usam apliques, unhas postiças, pintas artificiais. Os homens andam como pinguins, fumam charutos cubanos. Carros imponentes, deixam a barriga crescer: gordos e satisfeitos que estão.
Tudo isso, lhe digo, tudo isso para esquecer de onde vieram. Lá dentro das partes baixas da mulher. Admito ser uma verdade muito dolorida. Haja pó de arroz para afastar a tristeza e haja uísque para se afastar dessa tragédia.
Leitor, não sei se é o seu caso ter nascido de cesárea e evitado caminhos estreitos. Entretanto, tenciono relembrá-lo que, de qualquer maneira, somos iguais e não importa que seja um desviante daqueles que nascem pela barriga. Fato é, que se não lhe tirassem por ali, teria saído acolá - se é que me entende.
Ninguém no mundo inteiro esperava por esse escândalo. Ter um filho pertinho de onde sai o xixi.
O que me leva a crer que o nascimento tem um caráter pedagógico, assim como a morte tem. É apontar com frieza e racionalidade de onde viemos e para onde iremos.
Não importa quantas lasanhas você comeu ou se usava óculos escuros. Saímos de um buraco para cairmos em outro. Desculpe-me a franqueza.