29.12.14

Auto-ajuda pro new year: Zerou: Ano arriba

E então acabou. Eu lembro de quando era pequena, por algum motivo cósmico, eu tinha muita remela. Talvez porque fosse criança e não lavasse o rosto quando acordava, driblava a fiscalização de asseio e tentava ganhar o mundo. Mas lá estava minha mãe, uma barricada antes da porta. Com os dedos molhados de saliva, ela me limpava e brigava comigo. Lembro de ter chorado mais de uma vez porque ela tinha passado baba em mim. Passei a lavar o rosto.

Um ano novo é mais ou menos assim, a gente tenta se safar dizendo que rolou um cochilo, mas não tem jeito: ou a gente se limpa ou vão nos higienizar com cuspe durante um bom tempo. Por isso, meu caro, é melhor lavar a cara e encarar que já estamos despertos: prontinhos pro que der e vier.

Saia bem bonito para esse novo calendário. Seja sexy, charmoso e cativante. Cada mês do ano uma fantasia. Essa é a minha perspectiva. Mas você bem pode encarar a vida com aquela folhinha da mercearia. Feia que dói. Com letras azuis sobre o fundo amarelo te desejando boas festas. Continuo achando que quem deve fazer seu tempo é você, estampar suas próprias gravuras e dizeres, marcando sua pequena Era.

Eu sei que vou sambar no caixão de 2014. Ê aninho tinhoso, arrancou meu couro, furou meu bucho. No dia 31, às 23:59, vou gritar no meio da praia, escandalizar a vovó: "ano bacurento, eu vou e você fica". Vou combinar uma série de gestos obscenos, pra ofender as safadezas que me aconteceram. Um exorcismo completo.

Rodou o ponteiro e. Meia noite vou estar sorrindo. De branquinho, pulando ondinha, lambendo a lambida da minha cachorra. Vou comer sete uvas, engolindo os caroços. Mentalizar desejos e pedidos. Vou dar gritinhos com os fogos. Como sempre fiz. Não importa quantas vezes dê errado, a gente tem que zerar os medidores. Felicidade é recomeçar leve e breve. A vida é aqui e agora, e o que se foi, não pode nos levar.

E que venha o carnaval.

15.12.14

A verdade eu sei de core.

Sinto, sinto muito. A vida é uma composição engraçada de encontros. A sensação de que a pessoa se foi é brutal para mim. Uma morte vivente onde substituímos os apelidos, o papo, os beijinhos no pescoço. A verdade é que há substitutos melhores que outros. Tem gente que é mais sedutora, que encaixa na nossa existência de uma maneira deliciosa e é bom demais sorver essa sensação.

Uma vez me apaixonei por um cara que era plantador de cerejas. Com um sotaque de alemão, ele me dizia que era um farm boy. Adorava falar sobre as roupas térmicas dele. Na hora de dizer adeus a gente chorou, bêbados, cansados de tanta alegria. Foi uma das noites mais divertidas da minha vida. Ele fazia dança de salão lá nos Alpes e me fez rodar muitíssimo ao som daquela salsa desenfreada. Ele plantou bananeira e andou de cabeça pra baixo na linha do trem, pra me impressionar. E impressionou. Muito. Nosso primeiro beijo foi como meter os dedos num cabelo muito sedoso: macio, contínuo: um passeio.

Ontem achei um bilhetinho que ele me deixou, dizendo que foi wonderful o tempo together. O que mais me emocionou foi ele tentando me explicar, dispondo de algumas poucas palavras em inglês, um encantamento que estava acima de qualquer linguagem. Ele me dizia que olhos azuis são gelados, mas os meus eram marrons e grandes como os da Bambi. Ele disse que cabelos lisos são boring, mas os meus eram...eram...e fez um espiral com as mãos e pegou um cacho do meu cabelo. I’m just a farm boy, ele dizia. E se embolava com ele mesmo dizendo que meu sorriso era aberto e beautiful. Ciente de que eu o havia escolhido, desde o começo, me perguntava why me?

Porque eu gostava do nome dele. Gostava do silêncio dele, extremamente confortável. E gostava muito do jeito como ele me olhava, pausado, grave. Ele piscava pouco, mexia pouco a cabeça e olhava, olhava. Enquanto tudo se movia, ele estava lá. Eu me sentia completamente segura.


Essas pessoas são estrelas cadentes, a gente vê a trajetória, tem um desejo, mas não sabemos onde vai parar. Geralmente some no ar. Geralmente sim, mein lieber.

10.12.14

Cumpady, experiência de vida.

Ontem fui fazer uma audiência pra lá de Bom Jardim, depois ali de Cordeiro. Cantagalo city. Como era perto (5h de viagem), fui e voltei no mesmo dia. Como mudaram os pontos de ônibus do Centro, pensei que iria andar 25m, mas tive que andar até a Leopoldina pra pegar o busão. Como castigo é pouco, só tinha lugar em pé no coletivo. Resoluta, forte e remelenta fui lá para o fundo. 

Foi quando um carinha se encaixou em mim. Mas não fez safadeza não: ele estava de costas e era assim muito alto, de modo que a bunda dele se encaixou em cima da minha. Eu dei uma rebolada, pra ver se desfazia a posição, mas o certo alguém não queria. Vinha uma curva e paf, lá estava a bunda dele na minha coluna, amparado pelos meus glúteos cansados. Depois de muito lutar, me resignei e carreguei as nádegas dele Av. Brasil a fora.

Para meu completo susto, lá para as bandas de Vigário ele me catucou: dedinho no ombro. Como quem espera a revelação do vilão do Scooby-doo, virei lentamente. "Tem lugar aqui." Bom, tinha mesmo, na frente dele. Meio que hipnotizada, sorri e sentei. Para o meu esbaforimento geral ele tinha os cabelos de Compadi Washington e uma blusa vermelha do Tcheguevaran. Pirei. Porque sabe o que isso significa?

Absolutamente nada. Só que servi de suporte de traseiro e ainda há quem use Kolene - socialisticamente.

14.11.14

Títulos e glória


Tava suave na nave (busão da Master), quando um bêbado muitcho crazy resolveu embarcar. Ele fez duas amigas: uma velhinha de 80 anos e uma senhorinha robusta de uns cinquenta-e-blau. Lá para as tantas ele resolveu contar do filme que assistiu: CANIBAL. - Ontem vi um filme canibal, onde uma pessoa comia outras pessoas, comia braço, perna, até coração comia.

A velhinha se alarmou: - Mas comia de verdade?
- Comia - ele disse. Comia sim. A gordinha achou engraçado e começou a sorrir com um arzinho de superioridade de quem pensa que sabe das coisas. O Bêbo fez questão de combater sua arrogância com a realidade dos fatos: - Você está rindo porque não estava lá, com essa fofura toda, ia rodar rápido e alimentar uns dez canibal.

Os passageiros do bus-Master se escangalharam de rir. A cinquenta-e-blau achou foi bom, se sentiu assim uma delícia a ponto de ser devorada. Piscou, trejeitou e arrumou o cabelo atrás da orelha. Gostosa. Absolutamente hot. Eu observava tudo de camarote, quieta, quase sem respirar. Mas ele me notou. 

-Psiu.
Fiz que não percebi, continuei a descascar os esmaltes das unhas e cantarolar uma música do Blitz.
Ele: - Ei, psiu, eu te conheço.
Olhei. Não resisti.
- Você é da Globo?
Ai. Boom: - Sim, sou! Trabalho no Faustão!
Ele quase engasgou de nervoso: Sabia! Te conheço de te ver. 
- Lógico, todo domingo estou no ar. Sou apresentadora no Faustão.
Ele abria e fechava a boca, atrapalhado nas possibilidades: - Me arranja um emprego na Globo, o primeiro salário é seu.
Fiquei pensativa, como que ponderando, e resolvi aceitar a proposta: - Mas vai ser todo meu.
- Sim, todo. TODO! O primeiro é todo seu.
Ele levantou os olhos e viu uma mulher toda de rosa, cheia de maquiagem e um ar lustroso. - Olha que garota linda, me apontou com os olhos.
- Eu a conheço, trabalha comigo no Faustão - ela deu um sorriso faceiro e fez uma pose global. Bebim estava completamente fascinado. Duas, duas estrelas.
- Qual o seu nome - ele me perguntou.
Pensei, curti, proferi: - Clara. Ele me pediu: pergunta meu nome!
Pergunto: - Qual seu nome. Ele, esperto sem ser vulgar, disse logo: Tingana!
- Tingana, no domingo vou mandar um beijo pra você, na hora do Faustão.
Ah, mas isso era demais. Ele começou a se mexer no banco, eu tinha acreditado que aquele era o nome dele e mal podia conter sua excitação, como uma criança que recebe uma bala 7 belo de um quilo. Ele olhou pra mim, colocou as mãos nas bochechas e disse: - Você é a mais linda. Eu te amo. Você é a Miss Brasil.
O povo da lotação se animou: vários gritinhos: arrasou!: tá podendo hein!: êlaiá. Mas ele não se importava. A paixão o havia dominado. - Miss Brasil, você é linda no Faustão!
Meu ponto tinha chegado. De forma romântica, deu um grito bem aberto: Miss Brasil, você é a melhor! 
O vendedor de legumes (qualquer saquinho por 2 reais) deu uma conferida em mim e pareceu concordar com Bebucho. Reconhecimento em Duque de Caxias. Nada mais lindo. Nada mais forte. Nada mais verdadeiro.
À minha coroação, um brinde!

6.11.14

R.e-leve

Meu corpo está imunodepressor. Qualquer tédio ele se acende com uma febrezinha. Meu pulso se enfraquece e meu olho fecha. Fico cansada de rir e só quero dormir. Meu corpo está de saco cheio de comer em lugares que não gosto, de ir para o fórum da Pavuna, de ver juiz careca.

Meu corpo quer sol no corpo, besuntado com suor, lambido de mar, cochilo com livro na cara. Meu corpo sabe o que é bom. Por causa disso, meu sangue já está ficando ralo, as hemácias estão metendo o pé. Acho que preciso me apaixonar, para elas quererem ficar. Porque aí nós vamos ganhar sonho com recheio de doce de leite, a gente vai tomar água de coco pra dedéu e as hemácias vão se amarrar. Os leucócitos também não estão de boa. E isso me preocupa. O médico disse que eu tô na borderline e que eu tenho que ter uma vida mais light. Filho, eu gosto de intense. Vê se cresce.

Os leucócitos vão voltar. Vou dar um jeito. Vou comer fígado.  Meu chefe mandou eu comer inhame. Ai. Meu Deus, eu mexo com tanto papel que estou ficando fraca. Essa porra é que está me dando anemia. Um monte de palavra brega. Acórdão, indeferido, indeferido. Tinha que ser wave, croissant, pelota. Iria ser outro nível.

Fico sem entender se eles brigaram entre si ou se estão os dois contra mim. Hemácia vaca. Minhas células vão morrer se você não se proliferar logo. Falta oxigênio e os carai. Meu olho ficou fulo com isso, só quer se fechar, esquecer do mundo, vê mulher gorda e irrita meu cérebro. Uma guerra sanguino.lenta.

Agora eu te pergunto: Leucócito não é quem protege a parada toda? E como assim, sabe. Só tenho 100 a mais do mínimo, tenho 4600. É o que digo. Semana passada levei todo mundo pro samba. Dei cerveja pra geral. Nessa hora ninguém se fagocita, ninguém arreda o pé. Mas na hora que enfiam uma seringa do tamanho do Japão na minha veia, a galera arrega. Leucócito arregão. O que faz leucócito aprumar? Alho? Nem sei.

Pra você ver, a gente tem o corpo completo: mamilo, boca, tornozelo. Mas nunca é suficiente. Aposto que foram atrás de um atleta qualquer. Corpo sarado, ele toma suco detox. Vai vai todo mundo, me deixa só com o esqueleto e com as veias, que eu não preciso de vocês. Vou importar sangue puro, sangue sueco, com ascendência em libras. Vou dar do bom e do melhor para os meus núcleos celulares: prometo! Quem ficar, não vai se arrepender. Vamos viajar no verão. Vou contratar um massagista professor de axé. Não ouço mais Naldo. Acabou, juro. Tocou, a gente rala. Sexo que eu não posso garantir: a vida é um moinho e essas coisas são complicadas.


Hema, Leuc, conversem com o Lipídio, cara. Ele sempre tá por aqui. Me adora. Não me larga. Acho que vocês deveriam reconsiderar e. E, sei lá, ficar comigo.

5.11.14

O(u)caso

Se você me perguntar como aconteceu, lhe digo que foi feitiço. De uma hora para outra recebi um peteleco no coração e ele voltou a bater. Destrambelhado, lambendo os beiços, cabelo amassado, coçando a bunda para tentar entender o mundo.

A surpresa do movimento foi tanta que. Que nem sei. Fiquei assim meio boiando, comendo flores pelo caminho. Sonhei com o mar ártico. Não lembro quando disse não, nem quando disse sim. Esqueci se cheguei a falar algo. Foi encantamento: perdi as estribeiras: gritei: fiz: aconteci. Cochilei e adormeci.

Aí você me pergunta: que houve?

Rapaz, bateu um vento e meu peito levantou voo(u).

22.10.14

Mostarda e mel

Na sala em que eu trabalho há uma foto de Buenos Aires. Uma panorâmica da Avenida 9 de Julio. Uns prédios enormes, um anúncio da Samsung e o Obelisco. De vez em quando me pego dentro da cidade, olhando para o céu estupidamente azul, observando aqueles carros da década de 90 passarem. Nostalgia, acho. Essa viagem me dá nostalgia porque não convivo mais com ninguém que tenha participado dela: nem eu sou a mesma. Sinto saudade daquelas pessoas. Sinto muito. Por outro lado, olho ao redor e vejo que, em maior ou menor medida, estamos todos bem. Então, tudo certo.

Acho que poucas coisas são mais deliciosas do que ser chamada de guapa, saí da boca deles se derramando. Que linda, que linda. Numa espécie de feitiço, os hermanos são todos seus. Eles são assim charmosos e possuem umas jaquetas e penteados impronunciáveis. Umas barbichas estranhas: absolutamente irresistíveis: a Argentina.

Eu sempre achei que me apaixonaria só uma vez. Mas, posso dizer, minha profecia ficou caduca. Me apaixonei uma vez e amei outra vez. Mentira. Não faço a mínima ideia de como classificar minhas vivências. Só sei que foi bonito, intenso e bom. Depois, foi o caos. Dor no peito, sensação de finitude completamente sufocante. Assim é a vida. Uma alternância imprevisível de bala Juquinha com chá de boldo. Uma hora está tudo muito docinho, outra hora uma amargura difícil de engolir.

Mas, a gente engole. E depois até repete. Só não sei se a gente se convence de que isso é normal. As coisas se esfarelam. Areia é farinha de montanha e fica lá na praia, pra sempre beijando o mar.(Espertinha) Estou farelo de mim mesma sem saber se luto para me recompor ou se mantenho a nova forma. Umas decisões bizarras e cogentes. Viver é um grande truc.

E se você perguntar: tá triste, garota? Digo: olha, tô triste não. Só tô olhando. – Sabe aquele estado de observação em que ainda não estamos bem certos do que sentir e de como interpretar os acontecimentos? Aí, a gente fica assim com a alma meio parada, come esfirra, vê um filme, até que, de uma hora para a outra, a gente desperta, com um pensamento já pronto e quase tudo resolvido.

Tô olhando e comendo esfirra, meu senhor. – Na fila de espera de mim mesma, aguardando o ardente desfecho. - E espera até quando? – Ex-pêra. Não sei, tô numa vida de repolho, na suavidade da alface americana.

Sabe? – O quê?


Sei lá.

3.10.14

Auto-ajuda nombre deux : tenha calma nas horas de pânico.

Acho isso uma palhaçada, primeiramente. Se o momento é de nervosismo, não peçam calma, sob pena de desconstituir o momento mais legítimo de todo ser humano: a agonia.

Mais uma vez, venho dar dicas inúteis, mas que, prometo, serão honestas e alcançáveis. Veja que estar com raiva e inconformado pode ser muito importante para resolver situações há muito negligenciadas. Portanto, eis que vos digo: vomita! Vomita tudinho que está te sufocando e se o mundo explodir depois, vida que segue. Viveremos em outra galáxia, então.

Tenho certeza que a maioria das coisas não ditas e as esperas dissimuladas são a grande causa da nossa degradação pessoal. Na seleção hercúlea do que podemos ou não dizer, calamos nossa própria existência e viramos um fantoche desconexo e ridículo.

1) Não seja ridículo.
Não seja ridículo.

Nesse sentido, minha sugestão é que a angústia, raiva e sensação de que está tudo uma bosta sejam encaradas como emoções legítimas de serem sentidas e, mais do que isso, legítimas de serem vividas. Por isso, se alguém vier te acalmar, seja ignorante e estúpido. Melhor não. Assim acabaremos sozinhos. Por isso, se alguém vier de acalmar, sorria. Melhor não. Se alguém vier te acalmar, fale: afaste-se ou sofrerá as consequências.

2) Afaste-se ou sofrerá as consequências.
Faça cara de fúria e de quem come miojo cru, com fungo, caído na lama do terreno do vizinho (selvagem).

Tem horas que as coisas dão errado, sim. E é comum que a gente odeie essas fases onde tudo de ruim vem junto. Se alguém perguntar como você está, diga a verdade. Como você está? Tô horrível.

3) Tô horrível.
Horrível mesmo.

E se alguém vier te perguntar qual é o seu plano. Diga: Não tenho planos. E se começarem a inventar saídas e soluções pra sua vida. Bem, a intenção pode até ser boa, mas é como alguém que tenta escovar os dentes de outra pessoa: cai baba e pasta por todos os lados, sem que a limpeza seja eficaz.

4) O que fazer? 
Você me pergunta.

Eu acho válido não comer, não tomar banho, desligar o celular. Sem claro que isso afete sua saúde e das pessoas à volta. Mas o que eu quero dizer é que o luto é vital. Admitir-se fraco, triste ou desanimado é saudável. É ruim? É! Muito ou pouco? Demais! Mas são nesses períodos mais críticos em que entramos em maior contato com a gente mesmo. Sentir dor é terrível, entretanto, aponta para nossa vida e sensibilidade.

Brigue. Grite. Chore.
Tombe.


Mais tempo, menos tempo, um sorriso se arreganhará na sua cara. E na minha, espero.

29.9.14

Auto-ajuda number one :10 passos para se livrar do stress

PASSO 1- Pare de acreditar em listas idiotas
Sinceramente eu respeito que você esteja nervoso. Te respeito e te considero: de coração pra coração. Mas, nada - NADA - justifica burrice. O stress é um monstro latente e persistente. E é impossível que existam 10 passos para faze-lo sumir. Sinto cortar seu barato, mas: 10 passos para emagrecer com saúde; 15 passos para encontrar seu príncipe e 27 dicas para mais feliz. Não não não. Olha, loser, não vai dar certo. Tópico nunca levou ninguém a nada. Se fosse assim, o sumário seria a coisa mais incrível do mundo. E não é. Sumário é índice e índice é bobo. Seja maduro, por favor.

Resolvi ser inovadora e escrever sobre o stress, não num dia em que meu céu esteja límpido, mas no dia em que morder a cabeça de alguém se mostrou uma opção viável em vários momentos do dia.

Portanto, hoje vou te ensinar sobre como ser mais calmo e nunca sucumbir à ira.
Utilizando um rol exemplificativo, vou te dar algumas dicas. Vamos lá, garotão.

i. Se sua mãe, num momento de tédio raivoso, resolve dizer que você não estende a roupa que veste e não sabe o trabalho que dá. Faça um protesto p a c í f  i c o: fique andando pelado pela casa e pergunte se ela quer que você lave a louça.

ii. Se alguém muito fedido sentar do seu lado. E você não tem para onde escapar. Use de honestidade e amor: peide. E faça daquele ambiente um lugar equilibrado, onde você tenha coisas à acrescentar.

iii. Se seu chefe ficar de mimimi, fale: f o d a - s e. Brincadeira. Faz isso não. Vai dar merda. Fica na sua e toma iogurte diet, que a raiva passa.

Gostaria que você estivesse percebendo onde quero chegar: eu não vou te ajudar. Não tem como. Você que arrumou o problema e vai ser você mesmo quem vai ter que resolver. Só acho que ser positivo todas as horas não é saudável. Admitir-se ogro é imprescindível para viver bem.

Não olha pra mim desse jeito. Tá irritadinha: uiuiui. Sabe o que pensei, existe sim dez passos para se livrar do stress: a violência. Caminhe, 10 passos, até a pessoa objeto-de-fúria e dê uma esganadinha. Acaba com o stress. Mas você vai acabar preso. Eu advogo, mas não faço criminal.

Assim termino o primeiro article de self-help: Luv u!




28.9.14

Coração vagabundo

Há momentos em nossas vidas que a agonia é tanta que mais parece que vamos morrer sufocados, enforcados em nossas próprias tripas. A gente fica meio sem graça, meio parado sem entender se o golpe nos matou ou se matou tudo à volta. Uma coisa é certa: a desolação.

O pior, meu caro, é quando não há culpados e ninguém pode ser chamado de canalha. Eu tive uma longa cicatriz, remendei meu coração com uns trapos quaisquer, tentando ligar os pedaços esgarçados. Houve quem dissesse que isso não era direito, um coração andar tão roto. Tirei os panos podres e tive coragem de olhar longamente para as minhas feridas. Eram horrorosas e intransponíveis naquele momento. Mas, com esmero e paciência, elas se tornaram mais toleráveis. Houve quem dissesse que ele iria sarar ao todo. No fundo e no raso. E eu acreditei.

Acreditei plenamente que iria ser feliz e, de coração novo, fui me roçando na esperança. Mesmo com medo, ousei vislumbrar um destino mais bondoso. Onde houvesse menos rasgos. Era docinho esse futuro e eu quis te-lo.

Só que foi tudo algodão doce. Coloquei na boca e desapareceu. Só ficou o gosto. Fiquei confusa ao ver tanta cor se desmanchar. Feito uma boca que desmantela depois de dizer "eu te amo". Meu peito começou a arder, com aquela sensação tão conhecida. Acabou e é melhor ficarmos acabados.

Ah, coração vagabundo. Não tenho mais garantias. Não sei mais se ficaremos bem. Tragam os trapos.
Mais uma vez ao pó.

18.8.14

De hoje emdia.nte

Ontem antes de dormir, minha garganta já estava se fechando e meu coração já se afundava no peito. Uma angústia, tão interminável que eu me encolhi na cama. E fiquei assim por algum tempo: ouvindo o barulho da casa: a televisão moribunda, o chuveiro jorrando. Tudo embrulhado numa rotina preguiçosa e quieta.

Até que ouvi alguns passos. Ele entrou no meu quarto e se deitou do meu lado. Abriu os braços e eu me embrulhei nele. A sensação de sentar embaixo de uma árvore em um dia estonteantemente quente e azul. Minha mão sobre uma barriga que respirava, com umbigo e tudo. Calma. Barriga calma. Acho que amar e ser feliz é poder grudar as orelhas nas costelas de alguém e poder adormecer com a cabeça amparada por carinhos sonolentos.

A gente ama bem, na hora do cansaço extremo: quando a gente sente muito medo e se torna insuportável. A gente ama mesmo quando sabe que a vida é um furacão que arremessa nossos tesouros para muito longe.

Mais. Vamos intuindo onde os pedaços foram pousar e iniciamos uma busca. Vamos ao reencontro. Desenterramos, limpamos. Aprumamos. E dizemos: você é meu. Amor.

Seja a saúde, seja a doença. A euforia ou um novo emprego. São tantos os fatores geradores de caos. São golpes inesperados que nos deixam sem ar e sem lágrimas. Ficamos atônitos. Mas, no meio disso, nessa perda desenfreada, alguém nos abraça. Um olhar nos resgata e a gente consegue ter esperança.


E eu acho que isso merece ser celebrado. Somos um conglomerado de pessoas imperfeitas que se ama. De barrigas calmas. E mentes agitadas. Com umbigo e tudo, desafundadores de corações, aparadores de cabeças cansadas. E isso basta. Aliás, sobeja.

11.8.14

Excelsa

O dia demorou a começar. Ao que parece eu estava transitando em qualquer lugar que não me dizia respeito algum. Há algumas fases em nossa vida, em que estamos no entre-sonhos. Eu vejo a dificuldade e o medo de sairmos desse platô. Tivemos um vislumbre, mas aos poucos, nos perguntamos se o que vimos foi miragem ou se é nosso destino.

Para mim, destino é lugar a ser conquistado.  Aliás, eu percebo que a vida é um grande formulário em que nós criamos todos os campos. Percebo também, que há momentos em que não faz diferença se andamos na escuridão ou na luz: tudo mudou e não conseguimos reconhecer o caminho.

Uma sensação incômoda de pré-mudança. Tudo parece o mesmo, mas não é. E não sabemos explicar o que mudou. Só sabemos que não é. E mesmo sem termos nos deslocado, no mesmo cenário, a continuidade de alguma coisa parece ter sido interrompida.

Será que somos nós quem mudamos? E o olhar lançado não é capaz de capturar o que fomos. Será que houve um movimento mais rápido do que fomos capazes de assimilar? E vivemos momentaneamente em um espectro, uma mistura entre passado e realidade não digerida. Será que é inteligível essa crise, de maneira que essa confusão possa ser debatida, trabalhada e revertida?

E, daí, o ponto principal. Será que o novo já não se esfrega na nossa cara de forma tão descarada que já seja a hora de admiti-lo?

Não.
Não sei.

Meu conhecimento se mostrou insuficiente para interpretar os panoramas. E diante dessa falha, de meus parâmetros agonizantes, fico assustada e me sinto incapaz. Não que haja infelicidade ou motivos para um tango argentino. Nenhum desastre. Tudo vai bem. Só não sei para onde. Só não consigo imaginar o que vem depois da esquina. É a falta de projeção o que mais nos paralisa. A sensação latente de que não sabemos mais como construir um ponto de equilíbrio. E mesmo que ele nos seja dado, entregue pela graça divina, ficamos cônscios de que não sabemos como reconstituí-lo.

Meu caro, é a falta de onisciência, onipotência e onipresença que me aflige. Descobrir-me humana foi um dos maiores sustos que vivi recentemente. Porque eu bem que tinha me esquecido , como que por um lapso, dos elementos-surpresa. E levei uns tapas na cara, tantos bons quanto ruins: só para me lembrar que eu não sei de quase nada e vou ficar sem saber. E, sobretudo isso, tive que reassimilar a ideia de que a falta de controle, não deve me gerar insegurança.

Eu demorei a descobrir que as nuvens ficavam suspensas no céu. Eu pensava que no teto tinha algo para suspende-las. Quando me foi dito que nuvens, planetas, luas e tudo mais gravitavam, isso não me gerou fascínio, mas terror. Constantemente orava e pedia a Deus que não se esquecesse de segurar a Terra, para que não caíssemos de tão alto e as nuvens não nos esmagassem. Hoje vejo que meu medo sempre foi o desmoronamento.


Mas, para quem acredita em paraíso, o final das contas não é assim tão meia boca. Eu posso dizer que fui sobrevivente de alguns deslizamentos e vi escoar muitas certezas, mas nunca nada destruiu tudo. Então. Sabe como é. Vamos ouvir Zeca pagodinho, fazer tatoo de borboleta e confiar que tudo vai dar certo. Ai ai, Deus, como é difícil não ser Excelsa.

24.7.14

Bonequinha

Eu deveria escrever sobre política. Habeas corpus, habeas data. Eu deveria escrever sobre cuidados com as verduras, dentro e fora da geladeira. Eu deveria pensar em escrever uma tese bombástica salvífica e porreta. Mas não. Só penso em amorzinho. Só penso em meia no pé, esfregando na canela do outro.

Meu estado de espírito é qualquer coisa como o sorriso de um velho simpático. Um velho com boina, com roupas cinzas. E de suéter amarelo, ai-Aconchego gostoso. Venha aqui.

Tenho pensado muito na Tia Nea e toda vez minha vontade era coloca-la numa caminha de algodão. Queria poder estrangular os problemas com a força dos meus pensamentos. Mas eu não posso e ninguém pode. O cabelo não deixará de cair. Mas outro vai crescer. As lágrimas não deixarão de rolar. Mas os sorrisos serão gigantescos, mal caberão na nossa cara. A alegria mal caberá no nosso peito. Nós mal caberemos em Ilha Grande. Seremos tão maiores, seremos todos tão mais fortes.

Se a batalha é anunciada, diga aos inimigos que lutaremos. E nenhum de nós aqui é sozinho. Que não hesitaremos em vencer. Que não abriremos mão da esperança. Se a batalha é anunciada, diga a quem for, que verão um espetáculo. Verão uma gigante nascer. Diga a eles que verão novos corações paridos.

Avisem a todos que a dor não nos traz medo. Estamos sossegados, cônscios da nossa força, completamente submersos em amor. Eu acredito que diante de nós, o medo perde os sentidos. Nós nos grudamos uns aos outros, emaranhados em consolo.

Depois daquela curva, logo ali. Logo logo, as palavras vão ter que ser resignificadas para que eu possa explicar, quão linda foi a jornada, para eu poder lhe explicar o que realmente quer dizer vitória.

Tia, nós somos teus. E juntos podemos muito.

16.7.14

Ai, ai ai ai: chegada-hora


Ai, que falta você me faz, passarinho. Aquele sorriso todo escancarado. Que falta, passarinho. Eu acordo de manhã e lá está você dormindo. Continuo o dia todo com aquela imagem sonolenta nos meus olhos. Imaginando o que é que você anda sonhando, se há algo que eu tenha que possa servir. Vira e mexe a gente se tromba. Às vezes te beijo, às vezes derrubo. Com um amor estalado feito bola de chiclete.

Ai, que alegria você me faz, meu peixinho dourado. Essa voz macia, feita de algodão maciço. Que alegria, peixinho. Vejo você nadando pelas ondas, lambendo o sol do mar, se embolando na espuma. Nessa sua existência lustrosa, você sempre volta e me conta. Sobre a temperatura da água em uns olhos inundados.


E você que nem sente saudade, meu amor. Foi parido em linha reta, sem firulas ou desvios. Se há desejo é porque há, se existe amor, que abunde. Sim, meu coração, aprende a falar e a entender simplesmente que é hora de ser feliz.

3.6.14

Elixir

Eu precisava de algum espaço para entender minhas novas dimensões. Por um instante me dei conta de que nada havia mudado. Como se eu tivesse piscado e tivesse adormecido dentro daquele segundo. Dormido e levantado, sonhado em uma faísca de tempo.

Meu personagem favorito estava em seu último trecho: o fim da saga. E eles não se amavam mais. Nunca mais. Ele parecia feliz com o novo desfecho, mas eu não. Parei de achar engraçado. Eu queria que a nova obra fosse a reprise do passado. Mas não. Ele mudou, a mulher o deixou e ele ficou sozinho com uma chinesa. Pra conseguir um visto. Sem lutar para reconquistar o amor daquela que o abandonava. Mas eu estava lá, fincada. Esperando que, ao menos, ambos ficassem sozinhos e tristes. Seria um final feliz. Porque há uma dificuldade absurda em enfrentar novos amores, diante daqueles gigantescos e vultuosos que já conhecíamos. Uma preguiça de viver uma alegria ou qualquer expectativa.

A maturidade traz consigo o desmoronamento do imperativo.  Nada é pra já. Sempre e jamais nunca existiram. Não sei se liberta ou intimida a consciência de que é possível amar muitas e muitas vezes. Não sei se consola ou estraga saber que não morreremos de saudade ou por amor ou de amor. Não sei se inquieta ou acalma perceber que a vida é um ciclo e que sobrevivemos a quase tudo.

Digo que sobrevivemos a quase tudo porque muito de nós tomba no caminho. E fica sem ser enterrado, belo caminho, com a boca cheia de terra, com as unhas meio sujas, um vestido roto. A gente morre. Morre aquela ingenuidade de achar que tudo vai dar certo. E começa a entender que tudo pode dar certo. Que não existem garantias, mas que a felicidade está aí para ser mordiscada.

Odiei ver o fim dessa trilogia. A partir de agora, para reve-los preciso repetir as estórias e ver os mesmos diálogos. A gente tem saudade, sem ter condições de perguntar o que mais acontecerá. A gente nem sabe se eles continuam a viver ou se os personagens congelam depois que os créditos sobem. A gente fica sem saber como a vida funciona. É estranho. Muito ruim. Às vezes era até melhor não ter continuação.

Percebo que o fim causa um espanto e uma certa comodidade. Todos os dias somos seduzidos e convidados a nos esvaziar da esperança no eterno.

Pois
bem
acabou

30.5.14

Cheri

Gostar dele é assim como balançar no mar. É como se, de um momento para o outro, eu pudesse respirar debaixo d’água. E fosse andando pelos abismos sem ter medo da respiração estancar. Sem ter medo dos monstros marinhos. É como uma onda. É como uma lambida. É a pausa.
.
Acordei nua. Armaduras caídas por todos os lados. Cada presilha aberta era uma libertação, uma escravidão que tombava. Os pesos saíram se arrastando para longe de mim, levando a dor de tempos idos. Você beijou meus pensamentos, aconchegou minhas fragilidades no seu peito. Fiquei aquecida, morna, tranquila. A felicidade veio esbaforida me dizer que tinha chegado.

Seja bem vindo, meu bem.

8.5.14

Reclame aqui

 Acordei num dia solar. Cantei junto com os passarinhos. Dei palmadinhas na minha face. Vida boa, vida gostosa. Lavei a louça. Por que não? Arrumei a casa! Ah, isso é bobagem. Dancei a salsa que passava na rádio. Guardei mil sapatos. Um amorzinho. Ui ai ai.

Foi quando o mal se deu. Uma fumaça maligna tomou mentes e corações no pequeno vilarejo de JA. Acontece que Gabriela, uma mulher voraz e barrigudinha, levou todas as chaves da casa, deixando seus irmãos indefesos na fortaleza. Presos eternamente, de calças arriadas e muito tristes. Mesmo.

Sor Vaguilmes Nem respondeu bravamente a este obstáculo, clamando por calma e foco na busca de chaves que eventualmente abrissem as portas. Vivaninha, ao contrário, se sentia injustiçada e raivosa. Lamentava efusivamente e desejava vingança. Muita vingança mesmo.

Vaguilmes proferiu: pularemos o muro. Vivaninha, que estava com uma saia rosa, achou melhor colocar um short de academia, para evitar uma sedução em massa no pacato bairro de JA.

Ela primeiro colocou sua bolsa no patamar. Depois suspendeu um pouquinho a saia. Pediu a Deus que não puxasse fio. Pé na maçaneta, outro pé no cano. Opa, cuidado que fio desencapado mata. Mas, justo na hora que voltou seu traseiro em direção à rua, a saia recuou mais um tantinho. Como que por um golpe do destino sua calcinha começou a se tornar cada vez mais profunda, num fio dental eletrizante. Suas duas mãos estavam ocupadas de modo que a sensualidade era inevitável. Um ônibus passou bem nesse momento, Vivaninha pensou em uma estancada, mas achou que pudesse causar um desequilíbrio insuperável para a situação. Por fim, conseguiu passar para o outro lado do muro e deu um salto rumo a sua liberdade.

Ocorre que havia uma velhinha chocada, que amassava a mãe de uma criancinha sob sua tutela: sem saber se Vivaninha era assaltante ou descolada. Entre sorrisinhos e desculpinhas, a Velhinha decidiu pelo descolamento: saiu de perto de Vivaninha.


Humilhada e sozinha, Vivaninha arrumou sua saia. Aprumou a postura e contou tudo pra Cráudia.