11.8.14

Excelsa

O dia demorou a começar. Ao que parece eu estava transitando em qualquer lugar que não me dizia respeito algum. Há algumas fases em nossa vida, em que estamos no entre-sonhos. Eu vejo a dificuldade e o medo de sairmos desse platô. Tivemos um vislumbre, mas aos poucos, nos perguntamos se o que vimos foi miragem ou se é nosso destino.

Para mim, destino é lugar a ser conquistado.  Aliás, eu percebo que a vida é um grande formulário em que nós criamos todos os campos. Percebo também, que há momentos em que não faz diferença se andamos na escuridão ou na luz: tudo mudou e não conseguimos reconhecer o caminho.

Uma sensação incômoda de pré-mudança. Tudo parece o mesmo, mas não é. E não sabemos explicar o que mudou. Só sabemos que não é. E mesmo sem termos nos deslocado, no mesmo cenário, a continuidade de alguma coisa parece ter sido interrompida.

Será que somos nós quem mudamos? E o olhar lançado não é capaz de capturar o que fomos. Será que houve um movimento mais rápido do que fomos capazes de assimilar? E vivemos momentaneamente em um espectro, uma mistura entre passado e realidade não digerida. Será que é inteligível essa crise, de maneira que essa confusão possa ser debatida, trabalhada e revertida?

E, daí, o ponto principal. Será que o novo já não se esfrega na nossa cara de forma tão descarada que já seja a hora de admiti-lo?

Não.
Não sei.

Meu conhecimento se mostrou insuficiente para interpretar os panoramas. E diante dessa falha, de meus parâmetros agonizantes, fico assustada e me sinto incapaz. Não que haja infelicidade ou motivos para um tango argentino. Nenhum desastre. Tudo vai bem. Só não sei para onde. Só não consigo imaginar o que vem depois da esquina. É a falta de projeção o que mais nos paralisa. A sensação latente de que não sabemos mais como construir um ponto de equilíbrio. E mesmo que ele nos seja dado, entregue pela graça divina, ficamos cônscios de que não sabemos como reconstituí-lo.

Meu caro, é a falta de onisciência, onipotência e onipresença que me aflige. Descobrir-me humana foi um dos maiores sustos que vivi recentemente. Porque eu bem que tinha me esquecido , como que por um lapso, dos elementos-surpresa. E levei uns tapas na cara, tantos bons quanto ruins: só para me lembrar que eu não sei de quase nada e vou ficar sem saber. E, sobretudo isso, tive que reassimilar a ideia de que a falta de controle, não deve me gerar insegurança.

Eu demorei a descobrir que as nuvens ficavam suspensas no céu. Eu pensava que no teto tinha algo para suspende-las. Quando me foi dito que nuvens, planetas, luas e tudo mais gravitavam, isso não me gerou fascínio, mas terror. Constantemente orava e pedia a Deus que não se esquecesse de segurar a Terra, para que não caíssemos de tão alto e as nuvens não nos esmagassem. Hoje vejo que meu medo sempre foi o desmoronamento.


Mas, para quem acredita em paraíso, o final das contas não é assim tão meia boca. Eu posso dizer que fui sobrevivente de alguns deslizamentos e vi escoar muitas certezas, mas nunca nada destruiu tudo. Então. Sabe como é. Vamos ouvir Zeca pagodinho, fazer tatoo de borboleta e confiar que tudo vai dar certo. Ai ai, Deus, como é difícil não ser Excelsa.

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