O dia demorou a começar. Ao que
parece eu estava transitando em qualquer lugar que não me dizia respeito algum.
Há algumas fases em nossa vida, em que estamos no entre-sonhos. Eu vejo a
dificuldade e o medo de sairmos desse platô. Tivemos um vislumbre, mas aos
poucos, nos perguntamos se o que vimos foi miragem ou se é nosso destino.
Para mim, destino é lugar a ser
conquistado. Aliás, eu percebo que a
vida é um grande formulário em que nós criamos todos os campos. Percebo também,
que há momentos em que não faz diferença se andamos na escuridão ou na luz:
tudo mudou e não conseguimos reconhecer o caminho.
Uma sensação incômoda de
pré-mudança. Tudo parece o mesmo, mas não é. E não sabemos explicar o que
mudou. Só sabemos que não é. E mesmo sem termos nos deslocado, no mesmo cenário,
a continuidade de alguma coisa parece ter sido interrompida.
Será que somos nós quem mudamos?
E o olhar lançado não é capaz de capturar o que fomos. Será que houve um
movimento mais rápido do que fomos capazes de assimilar? E vivemos momentaneamente
em um espectro, uma mistura entre passado e realidade não digerida. Será que é
inteligível essa crise, de maneira que essa confusão possa ser debatida,
trabalhada e revertida?
E, daí, o ponto principal. Será
que o novo já não se esfrega na nossa cara de forma tão descarada que já seja a
hora de admiti-lo?
Não.
Não sei.
Meu conhecimento se mostrou
insuficiente para interpretar os panoramas. E diante dessa falha, de meus
parâmetros agonizantes, fico assustada e me sinto incapaz. Não que haja
infelicidade ou motivos para um tango argentino. Nenhum desastre. Tudo vai bem.
Só não sei para onde. Só não consigo imaginar o que vem depois da esquina. É a
falta de projeção o que mais nos paralisa. A sensação latente de que não
sabemos mais como construir um ponto de equilíbrio. E mesmo que ele nos seja
dado, entregue pela graça divina, ficamos cônscios de que não sabemos como reconstituí-lo.
Meu caro, é a falta de
onisciência, onipotência e onipresença que me aflige. Descobrir-me humana foi
um dos maiores sustos que vivi recentemente. Porque eu bem que tinha me
esquecido , como que por um lapso, dos elementos-surpresa. E levei uns tapas
na cara, tantos bons quanto ruins: só para me lembrar que eu não sei de quase
nada e vou ficar sem saber. E, sobretudo isso, tive que reassimilar a ideia de
que a falta de controle, não deve me gerar insegurança.
Eu demorei a descobrir que as
nuvens ficavam suspensas no céu. Eu pensava que no teto tinha algo para
suspende-las. Quando me foi dito que nuvens, planetas, luas e tudo mais
gravitavam, isso não me gerou fascínio, mas terror. Constantemente orava e
pedia a Deus que não se esquecesse de segurar a Terra, para que não caíssemos
de tão alto e as nuvens não nos esmagassem. Hoje vejo que meu medo sempre foi o
desmoronamento.
Mas, para quem acredita em
paraíso, o final das contas não é assim tão meia boca. Eu posso dizer que fui
sobrevivente de alguns deslizamentos e vi escoar muitas certezas, mas nunca
nada destruiu tudo. Então. Sabe como é. Vamos ouvir Zeca pagodinho, fazer tatoo de borboleta e confiar
que tudo vai dar certo. Ai ai, Deus, como é difícil não ser Excelsa.
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