18.8.14

De hoje emdia.nte

Ontem antes de dormir, minha garganta já estava se fechando e meu coração já se afundava no peito. Uma angústia, tão interminável que eu me encolhi na cama. E fiquei assim por algum tempo: ouvindo o barulho da casa: a televisão moribunda, o chuveiro jorrando. Tudo embrulhado numa rotina preguiçosa e quieta.

Até que ouvi alguns passos. Ele entrou no meu quarto e se deitou do meu lado. Abriu os braços e eu me embrulhei nele. A sensação de sentar embaixo de uma árvore em um dia estonteantemente quente e azul. Minha mão sobre uma barriga que respirava, com umbigo e tudo. Calma. Barriga calma. Acho que amar e ser feliz é poder grudar as orelhas nas costelas de alguém e poder adormecer com a cabeça amparada por carinhos sonolentos.

A gente ama bem, na hora do cansaço extremo: quando a gente sente muito medo e se torna insuportável. A gente ama mesmo quando sabe que a vida é um furacão que arremessa nossos tesouros para muito longe.

Mais. Vamos intuindo onde os pedaços foram pousar e iniciamos uma busca. Vamos ao reencontro. Desenterramos, limpamos. Aprumamos. E dizemos: você é meu. Amor.

Seja a saúde, seja a doença. A euforia ou um novo emprego. São tantos os fatores geradores de caos. São golpes inesperados que nos deixam sem ar e sem lágrimas. Ficamos atônitos. Mas, no meio disso, nessa perda desenfreada, alguém nos abraça. Um olhar nos resgata e a gente consegue ter esperança.


E eu acho que isso merece ser celebrado. Somos um conglomerado de pessoas imperfeitas que se ama. De barrigas calmas. E mentes agitadas. Com umbigo e tudo, desafundadores de corações, aparadores de cabeças cansadas. E isso basta. Aliás, sobeja.

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