Ontem antes de dormir, minha
garganta já estava se fechando e meu coração já se afundava no peito. Uma
angústia, tão interminável que eu me encolhi na cama. E fiquei assim por algum
tempo: ouvindo o barulho da casa: a televisão moribunda, o chuveiro jorrando. Tudo
embrulhado numa rotina preguiçosa e quieta.
Até que ouvi alguns passos. Ele
entrou no meu quarto e se deitou do meu lado. Abriu os braços e eu me embrulhei
nele. A sensação de sentar embaixo de uma árvore em um dia estonteantemente
quente e azul. Minha mão sobre uma barriga que respirava, com umbigo e tudo.
Calma. Barriga calma. Acho que amar e ser feliz é poder grudar as orelhas nas
costelas de alguém e poder adormecer com a cabeça amparada por carinhos
sonolentos.
A gente ama bem, na hora do
cansaço extremo: quando a gente sente muito medo e se torna insuportável. A gente
ama mesmo quando sabe que a vida é um furacão que arremessa nossos tesouros
para muito longe.
Mais. Vamos intuindo onde os
pedaços foram pousar e iniciamos uma busca. Vamos ao reencontro. Desenterramos,
limpamos. Aprumamos. E dizemos: você é meu. Amor.
Seja a saúde, seja a doença. A
euforia ou um novo emprego. São tantos os fatores geradores de caos. São golpes
inesperados que nos deixam sem ar e sem lágrimas. Ficamos atônitos. Mas, no
meio disso, nessa perda desenfreada, alguém nos abraça. Um olhar nos resgata e
a gente consegue ter esperança.
E eu acho que isso merece ser
celebrado. Somos um conglomerado de pessoas imperfeitas que se ama. De barrigas
calmas. E mentes agitadas. Com umbigo e tudo, desafundadores de corações,
aparadores de cabeças cansadas. E isso basta. Aliás, sobeja.
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