28.9.14

Coração vagabundo

Há momentos em nossas vidas que a agonia é tanta que mais parece que vamos morrer sufocados, enforcados em nossas próprias tripas. A gente fica meio sem graça, meio parado sem entender se o golpe nos matou ou se matou tudo à volta. Uma coisa é certa: a desolação.

O pior, meu caro, é quando não há culpados e ninguém pode ser chamado de canalha. Eu tive uma longa cicatriz, remendei meu coração com uns trapos quaisquer, tentando ligar os pedaços esgarçados. Houve quem dissesse que isso não era direito, um coração andar tão roto. Tirei os panos podres e tive coragem de olhar longamente para as minhas feridas. Eram horrorosas e intransponíveis naquele momento. Mas, com esmero e paciência, elas se tornaram mais toleráveis. Houve quem dissesse que ele iria sarar ao todo. No fundo e no raso. E eu acreditei.

Acreditei plenamente que iria ser feliz e, de coração novo, fui me roçando na esperança. Mesmo com medo, ousei vislumbrar um destino mais bondoso. Onde houvesse menos rasgos. Era docinho esse futuro e eu quis te-lo.

Só que foi tudo algodão doce. Coloquei na boca e desapareceu. Só ficou o gosto. Fiquei confusa ao ver tanta cor se desmanchar. Feito uma boca que desmantela depois de dizer "eu te amo". Meu peito começou a arder, com aquela sensação tão conhecida. Acabou e é melhor ficarmos acabados.

Ah, coração vagabundo. Não tenho mais garantias. Não sei mais se ficaremos bem. Tragam os trapos.
Mais uma vez ao pó.

Um comentário:

Guilherme disse...

Essa esperança é complicada mesmo.
A ausência de esperança pode levar ao desespero. Mas a desilusão, depois de acreditar com força que as coisas podem dar certo desta vez, é um preço alto a se pagar.
Parabéns pelo post e pelo blog!
Melhoras para o coração!