29.12.14

Auto-ajuda pro new year: Zerou: Ano arriba

E então acabou. Eu lembro de quando era pequena, por algum motivo cósmico, eu tinha muita remela. Talvez porque fosse criança e não lavasse o rosto quando acordava, driblava a fiscalização de asseio e tentava ganhar o mundo. Mas lá estava minha mãe, uma barricada antes da porta. Com os dedos molhados de saliva, ela me limpava e brigava comigo. Lembro de ter chorado mais de uma vez porque ela tinha passado baba em mim. Passei a lavar o rosto.

Um ano novo é mais ou menos assim, a gente tenta se safar dizendo que rolou um cochilo, mas não tem jeito: ou a gente se limpa ou vão nos higienizar com cuspe durante um bom tempo. Por isso, meu caro, é melhor lavar a cara e encarar que já estamos despertos: prontinhos pro que der e vier.

Saia bem bonito para esse novo calendário. Seja sexy, charmoso e cativante. Cada mês do ano uma fantasia. Essa é a minha perspectiva. Mas você bem pode encarar a vida com aquela folhinha da mercearia. Feia que dói. Com letras azuis sobre o fundo amarelo te desejando boas festas. Continuo achando que quem deve fazer seu tempo é você, estampar suas próprias gravuras e dizeres, marcando sua pequena Era.

Eu sei que vou sambar no caixão de 2014. Ê aninho tinhoso, arrancou meu couro, furou meu bucho. No dia 31, às 23:59, vou gritar no meio da praia, escandalizar a vovó: "ano bacurento, eu vou e você fica". Vou combinar uma série de gestos obscenos, pra ofender as safadezas que me aconteceram. Um exorcismo completo.

Rodou o ponteiro e. Meia noite vou estar sorrindo. De branquinho, pulando ondinha, lambendo a lambida da minha cachorra. Vou comer sete uvas, engolindo os caroços. Mentalizar desejos e pedidos. Vou dar gritinhos com os fogos. Como sempre fiz. Não importa quantas vezes dê errado, a gente tem que zerar os medidores. Felicidade é recomeçar leve e breve. A vida é aqui e agora, e o que se foi, não pode nos levar.

E que venha o carnaval.

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