5.3.09

Perdoem-me os obstetras

Ninguém nasce sabendo de onde sai. Se fosse o caso, ficaríamos horrorizados.
Para disfarçar, o médico nos tira logo de lá, nos puxa de ponta cabeça, como quem diz: " esquece, esquece". Tapa na bunda para ajudar na superação. Peito com leite. Choro de mãe. E é assim que se nasce, meio que no susto.
Depois passa o tempo, a criança vira mulher ou homem -as duas coisas, quem sabe - todos crescidos. O nascimento se torna acontecimento remoto.
As mulheres se enfeitam com jóias, calçam sapatos altíssimos, usam apliques, unhas postiças, pintas artificiais. Os homens andam como pinguins, fumam charutos cubanos. Carros imponentes, deixam a barriga crescer: gordos e satisfeitos que estão.
Tudo isso, lhe digo, tudo isso para esquecer de onde vieram. Lá dentro das partes baixas da mulher. Admito ser uma verdade muito dolorida. Haja pó de arroz para afastar a tristeza e haja uísque para se afastar dessa tragédia.
Leitor, não sei se é o seu caso ter nascido de cesárea e evitado caminhos estreitos. Entretanto, tenciono relembrá-lo que, de qualquer maneira, somos iguais e não importa que seja um desviante daqueles que nascem pela barriga. Fato é, que se não lhe tirassem por ali, teria saído acolá - se é que me entende.
Ninguém no mundo inteiro esperava por esse escândalo. Ter um filho pertinho de onde sai o xixi.
O que me leva a crer que o nascimento tem um caráter pedagógico, assim como a morte tem. É apontar com frieza e racionalidade de onde viemos e para onde iremos.
Não importa quantas lasanhas você comeu ou se usava óculos escuros. Saímos de um buraco para cairmos em outro. Desculpe-me a franqueza.

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