19.5.13

Anzol


Havia um pai, todo sujo de graxa, descansando na hora do almoço. Ele consertava caminhos ou caminhões, agora não lembro ao certo. O filho dele comia cheetos, sabor vômito. Antes de  comer o biscoito ele olhava, cheirava, enfiava os dentes na metade. E depois jogava a bolinha lá dentro. Debaixo da árvore. Exaustos. Olha, cheira, morde, desmorde: come.

O pai tinha ares de quem fumava um cachimbo. Fui me aproximando, meu caminho cruzava o deles. Eu passava por onde eles se situavam. A voz do pai era grave e a do filho era muda. Ele disse para o garoto: - Temos que aproveitar enquanto o Obama está no poder.

Temos que aproveitar enquanto o Obama está no poder. aproveitarobama. poder. poder. temos poder. obama.

Há três dias isso não me sai da cabeça. Pensei em comprar um cheetos. Pensei em aproveitar o Obama também. Mas não sei ao certo como. Não sei se sei como comer em rituais sagrados com cachimbos simbólicos.

Ele era negro e o suor reluzia sua pele.

Fiquei sem teto e sem chão. Com ideias esparramadas por tudo que é canto. E percebi que aproveito pouco as coisas. Eu percebi que o menino sabia se alimentar e eu me dei por faminta. Engulindo atropeladamente meus desejos. Às vezes um lampejo de lucidez passa o nariz em nosso rosto e beija nossos olhos.
beija nossos olhos. enquanto está no poder.

Percorri minha alma em busca de oportunidades, em busca de lapsos temporais que estavam prestes a expirar. Aí olhei. Olhei bem. Fiz do meu desejo, objeto. Peguei. Manjei. Mordisquei.

Isca. A vida me pescou.

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