A vida é um troço esquisito. É
uma espécie de elástico que a gente puxa, puxa, um estilingue que a gente estica
com medo de soltar da mão e bater bem no meio da nossa cara. Geralmente sou de
desejos bem delimitados: olho bem meu alvo e persisto nos arremessos. Até acertar
e alcançar minha satisfação. Mas, nos últimos tempos, estava esticando o
elástico só mesmo para não perder a prática. Ia para o meio do meu nada e
atirava, pensamentos voando, tiritando: o
que querer, pra quê querer. Uma fase boa, embora dolorida, comecei a mirar
o intangível, acertar o sol, atingir o horizonte.
E nesse ritmo, de movimentos
aparentemente inúteis, aprendi que existe graça no simples ato de tentar. Encontrei
um rapazinho com uma barba gigantesca e uns olhinhos brilhantes que não se
importava com meu despropósito, nem com minhas dúvidas. Pouco a pouco, aquelas elucubrações
solitárias começaram a ser partilhadas. Ele me lembrou que isso que eu vivia
se chamava sonhar. E que sonhar era bom. Sem eu perceber, ele foi colocando
umas pedrinhas no meu estilingue.
Ontem, para meu completo pavor,
ele puxou e puxou e riu e puxou. E me deu. Quando soltei, leviana e para o
alto, recebi uma chuva de flores. O arranjo mais bonito estava lá. Com tudo o
que era mais precioso. Fiquei tonta de alegria. Minhas angústias se perderam de
mim. Boas memórias e gargalhadas. Parecia infinito. Eu já não sabia que bem me
arremeteria, que carinho me ampararia primeiro. Fiquei toda feita de nuvem. Paralisada ante minha incapacidade de transmitir a força das minhas emoções.
De noite, pensando com Deus,
concluí que ninguém nunca entenderia. Só Ele mesmo para sentir no meu coração: achei
uma conchinha e dela consigo ouvir o mar. Mar me quer, velejo: proamar.