13.6.15

Esconde-esconde


A vida é um troço esquisito. É uma espécie de elástico que a gente puxa, puxa, um estilingue que a gente estica com medo de soltar da mão e bater bem no meio da nossa cara. Geralmente sou de desejos bem delimitados: olho bem meu alvo e persisto nos arremessos. Até acertar e alcançar minha satisfação. Mas, nos últimos tempos, estava esticando o elástico só mesmo para não perder a prática. Ia para o meio do meu nada e atirava, pensamentos voando, tiritando: o que querer, pra quê querer. Uma fase boa, embora dolorida, comecei a mirar o intangível, acertar o sol, atingir o horizonte.

E nesse ritmo, de movimentos aparentemente inúteis, aprendi que existe graça no simples ato de tentar. Encontrei um rapazinho com uma barba gigantesca e uns olhinhos brilhantes que não se importava com meu despropósito, nem com minhas dúvidas. Pouco a pouco, aquelas elucubrações solitárias começaram a ser partilhadas. Ele me lembrou que isso que eu vivia se chamava sonhar. E que sonhar era bom. Sem eu perceber, ele foi colocando umas pedrinhas no meu estilingue.

Ontem, para meu completo pavor, ele puxou e puxou e riu e puxou. E me deu. Quando soltei, leviana e para o alto, recebi uma chuva de flores. O arranjo mais bonito estava lá. Com tudo o que era mais precioso. Fiquei tonta de alegria. Minhas angústias se perderam de mim. Boas memórias e gargalhadas. Parecia infinito. Eu já não sabia que bem me arremeteria, que carinho me ampararia primeiro. Fiquei toda feita de nuvem. Paralisada ante minha incapacidade de transmitir a força das minhas emoções.

De noite, pensando com Deus, concluí que ninguém nunca entenderia. Só Ele mesmo para sentir no meu coração: achei uma conchinha e dela consigo ouvir o mar. Mar me quer, velejo: proamar.

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