18.8.15

Museu, Musoele

Há algum tempo sinto vontade de escrever qualquer coisa que não está cabendo no vernáculo. Fico agoniada com essa sensação na língua que não consegue virar um sabor, um nome. As palavras sempre me acalentaram e me ajudaram a suportar tanto a tristeza como a alegria.

Mas há dois dias ganhei flores e agora, toda vez que durmo, sonho com elas. Até no cochilo do trem, sonhei. Achei tão bonitas, ganhei dois ramos: ambos roubados do meio da rua numa madrugada. Uma era um Flamboyant, a outra uma orquídea branca. Uma na ida, outra na volta. O que mais me impressionou foi o fato de alguém reconhecer beleza e lhe endereçar, rotineiramente. É comum que eu ande por aí e colha algumas, seguro até se desmancharem nas minhas mãos. Vivo com os bolsos cheios de flores. Aliás, vivia. Por algum motivo, parei de pega-las e passei a apenas contemplar.  Agora me dou contas. Vejo, que, em alguma medida, isso foi um procedimento amplamente adotado por mim. Parei de tocar, usar, consumir. Passei a desejar, me controlar e observar.

De repente, ele passa, arranca e me dá. Nesse momento, percebi duas coisas: eu quero isso e mais, quero receber. Desejo me doar, sem ter nada em troca. E desejo receber, sem nada em troca. Também. Exatamente como aquelas flores, que não podem ser replantadas, possuem sua plenitude no que aparentemente seria uma limitação.

Acredito que o amor, vivenciado em nossas mais diversas relações, vez por outra toma um sopapos e só o tempo pode demonstrar a sua força e resistência. Numa terra aparentemente vazia, nasce uma folhinha: uma semente que brote, basta. A vida pulsa numa voracidade que é difícil reter suas ondas, a gente cai no meio de um redemoinho e entra felicidade pelo nariz, o pé bate na nuca, a boca não dá conta de falar, nem os olhos de ver.

Era como se eu estivesse brincando de estátua, entre os meus queridos. Podia rir, falar entre os dentes, mas não podia me desdobrar e alcançar quem me investigava. O encarregado fazia de tudo para que eu me desmanchasse, mas eu me mantinha imóvel para ganhar. Às vezes, perder é a chave do sucesso, desmontar é o ápice da construção.

O amor se desenvolve como uma nuvem, embalada pelo vento, dormindo e acordando no céu. Eu estiquei minha mão, ele beijou. Tão bom. Quem me dera poder explicar.

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