29.5.11

Moradia

E onde mora o medo. E o que se teme: partir ou chegar? Quando me parte ou quando se chega. Em que tempo. Em qual pessoa.

Mas que temos medo de ver. E nossos olhos estourarem. E todos os sentidos se perverterem com a visão. E de repente o tato navegar em cores. Então, o paladar engolir sons. E os nossos olhos escorregarem para dentro de nós. E medo de nossos passos deslocarem os significados. O mar se afogar na areia coberta. Sentirmos a Terra como o pote do vento. Entender o fruto como a morte da flor.

Mas o que fazer? Para evitar esse desmonte. Derrubar planícies? Construir uma floresta: estacas de folhas por todos os lados e fazer das copas, as montanhas. E relevar melhor a vida. Fazer com tudo mais altitude.

Mas talvez uma ciranda resolva o problema, com danças bem triviais. Flautinhas. Um trombone. Um ritmo de circo. Fitas penduradas aqui e ali. Talvez umas luzes coloridas. Talvez dê jeito. Um mexicano com um bigode bem engraçado. Talvez conserte as coisas. Uma roupa mais florida, quem sabe não resolve a situação? A risada de um velho sem dente. Pode ser um solucionador. Aquela gengiva aberta.

E quem sabe não exista mais nenhum problema e o medo seja transformado em saliva. E se cuspa medonhos, no meio da rua. Escancarado e público: o medroso estirado no chão. Moribundo medoinho.

Vida, me tire para dançar. E vai ser infinito esse baile. E eu escondo meus pés. E não se sabe meus caminhos. E me tire para dançar, que eu faço o sol se pôr aos nossos pés. Ah, me tire para dançar. E veja se aguenta a felicidade. E Paquetá será pequena para nós dois. E pedalinhos faltarão para nossas pernas. E o Pão de açúcar caberá no céu de nossas bocas. E Cristo há de nos redimir. A Lagoa terá mares de oceano. Em todos os cenários caberão serenatas. E as risadas serão nosso amuleto; os suspiros, nossas medalhas. Não faça desfeita. Tira. Dança. Venha: vida.

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