19.9.11

Pracinha

E, ah, se você fosse mar: eu me afogaria toda.


E, ah, se você fosse céu, eu avoaria até suas alturas.

Aconteceu uma coisa terrível. Um incidente indestrutível. Uma cena inenarrável. Um negócio esquisitíssimo: eu vi o amor. E ele usa cuecas vermelhas e faz música de improviso. E isso tudo descobri porque estava cega de um olho, então acabei vendo do ouvido são.

Estava eu, no bancoamarelodapraça. Parada feitoum p o s t e velho. Antiga como a barba de um profeta. Tediosa como um velho a.pose.ntado. Cabelo arrumado, sim senhor. Olho meio peixe morto, pois sim. Foi quando (e quanto!) um homem passou, sem mexer. Achei que era uma visão divina. De repente, já eu esperando raios e luzes coloridas –altamente celestiais – e de repente: paf: ele tira neve do bolso. Um monte de bolinha de neve. E você não me venha dizer que é estranho, mas que todo mundo já tem a sapiência que esse tipo de visão é estrambólica dessa maneira mesmo. E eu posso continuar?

Então veja. As bolinhas de neve foram se aderretenu e se viranu nin água de mar. Ixe que eita ferro o Oceano Transatlântico ficou todo lá esparramado na praça e os peixe tudo ficou querendo de comer os pé das pessoa. E eu não tive medo. Já abandonara de pronto as concordância. É que eu estava vendo de ouvindo e ouvido só tem medo de trovão. Mas olha que aí que eu gritei: “Quem és tu ó grande Lorde?”, mas ele me respondeu: “Ih, I don’t speak portuguese.” E, sem saber o que dizer taquei lhe uma resposta: “Me too not pra você também.” E fiquei ali, com cara de feiticeira poderosa.

Mas ele tava que tirava bolinha de neve do bolso e eu já preocupada com uma inundação na Praça do Carma(o). Foi então que eu falei logo dizendo: “E é então que a gente vai falar é sem linguagem!”. O homem visão disse: “Ok.” E a gente falou uma montanha de palavra, as letrinha até que ficaram cansada de tanto disse me disse. E nada. Nem um entendimentinho. De alguma maneira, extraordinaricamente a gente acordou de ele ouvir com o olho dele (que funcionava muito bem, só precisava de óculos para dirigir de noite) e eu iria ver com ouvido bom. E eu iria sentir seu silêncio e ele pairar em minha pausa. E ficamos assim. E ficamos assim, inertes. E ficamos assim, transbordando. E por fim ele me perguntou: “Qual é seu nome?”. Eu-queitude. Eu-nominada. Eu-infinita. Eu-todanada.

E me perdi a coragem de devolver a pergunta. Fácil. Eu fiz o silêncio dele e ele me entendeu por inteiro. “Eu sou amor, sua visão de amor. Sua esperança de ah mar.”

Mas então eu aprendi. E amor, caro ouvinte é a interrupção de sons. É a linguagem não dita. O amor é a gente se transbordando no outro. É quando as nuvens se derretem, quando o mar escorre para dentro de nós. O amor é um farfalhar de folhas, um soprinho das brisas: uma delícia dos deuses. É quando uma alma beija no nariz de outra alma. Uma simplicidade tamanha, como engolir os rios com os olhos, devorar montanhas com os pés, roçar a mão na terra. Eu vi o amor na Praça do Carmo. Praça do Camor. Na praça de nós. Na esquina de mim mesma. Parado em frente ao sinal. E sabe o que ele me disse: “Acorda! Ou pensa que esse banco é todo seu?”.

Eu disse que era difícil de explicar.

2 comentários:

Karol disse...

Caraaaaa. Fantásticooo!!! Excelente! Vou colocar o trecho do fim lá no meu face, rsrsr.

Fernanda. disse...

AMEI! AMEI!
^^