18.4.12

Cúmplice

Não se engane, todos estão a procura de cúmplices. Amor é questão de co-autoria:  são duas pessoas sendo a mesma arma: um engatilha, outro dispara: ambos se deslumbram. É a fusão de medos e o engolimento de distâncias. Cumplicidade está longe de ser um caminhar de mãos dadas às margens de um riacho. Não. É estar pendurado num abismo, mas ter quem te sustenha. Alguém que suporte seu peso. E que te segure, é ter alguém que te reconheça como sua própria alma. Imprescidibilidade. Um esgotamento, um campo aberto, um espaço livre para correr. Um recreio, um balançar de pernas.

É quando alguém se debruça na sua existência e verte sobre você riquezas e fracassos. E se desmantela todo, se desintegra diante dos seus olhos. E depois se remonta, explicando seus segredos, dando chaves, revelando encaixes, diante dos seus olhos incrédulos. Sem agonia. Uma nudez calma de ser para alguém. De ser mar navegável pelo outro. É transferir-se de corpo, é deixar seus pensamentos roçarem nos pensamentos alheios. Unir-se para um crime, planeja-lo em conjunto, conjecturar, temer, junto, perto, arfando, sentindo o hálito, chorar de medo, abraçar consolando, sem saber respostas, sem abandonar as esperanças. Duas pessoas a mesma arma. Duas pessoas uma pessoa só. Sem caber nada entre. Sem finais tristes.

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