Eu deveria escrever sobre
política. Habeas corpus, habeas data. Eu deveria escrever sobre cuidados com as
verduras, dentro e fora da geladeira. Eu deveria pensar em escrever uma tese
bombástica salvífica e porreta. Mas não. Só penso em amorzinho. Só penso em
meia no pé, esfregando na canela do outro.
Meu estado de espírito é qualquer
coisa como o sorriso de um velho simpático. Um velho com boina, com roupas
cinzas. E de suéter amarelo, ai-Aconchego gostoso. Venha aqui.
Tenho pensado muito na Tia Nea e
toda vez minha vontade era coloca-la numa caminha de algodão. Queria poder
estrangular os problemas com a força dos meus pensamentos. Mas eu não posso e
ninguém pode. O cabelo não deixará de cair. Mas outro vai crescer. As lágrimas
não deixarão de rolar. Mas os sorrisos serão gigantescos, mal caberão na nossa
cara. A alegria mal caberá no nosso peito. Nós mal caberemos em Ilha Grande.
Seremos tão maiores, seremos todos tão mais fortes.
Se a batalha é anunciada, diga
aos inimigos que lutaremos. E nenhum de nós aqui é sozinho. Que não hesitaremos
em vencer. Que não abriremos mão da esperança. Se a batalha é anunciada, diga a
quem for, que verão um espetáculo. Verão uma gigante nascer. Diga a eles que
verão novos corações paridos.
Avisem a todos que a dor não nos
traz medo. Estamos sossegados, cônscios da nossa força, completamente submersos
em amor. Eu acredito que diante de nós, o medo perde os sentidos. Nós nos
grudamos uns aos outros, emaranhados em consolo.
Depois daquela curva, logo ali.
Logo logo, as palavras vão ter que ser resignificadas para que eu possa
explicar, quão linda foi a jornada, para eu poder lhe explicar o que realmente
quer dizer vitória.
Tia, nós somos teus. E juntos
podemos muito.