18.1.15

All we need is un chokito d’amour

Tenho para mim que no verão muitas coisas derretem, pra nunca mais serem as mesmas. Desde o protetor labial de manteiga de cacau até aquela paixãozinha, docemente cultivada em tempos de paz. Esse período do carnaval é uma delícia, as meninas usam flores na cabeça, os meninos portam capas e tudo é muito divertido. A peruca torta faz graça, um He-man gordão é o máximo. Essa suspensão das críticas e essa liberdade para ser ridículo é o que nos faz aguentar o resto do ano.

Por outro lado, uma questão que acho curiosíssima é a suspensão do amor. Queridinho, poucos são aqueles que unem corações, trapos e fidelidades nesse período. Estica-se a massa até chegar março, umas furam, outras resistem. Fica aí a margem de risco. Isso tudo porque o parâmetro é a quantidade e não a qualidade das relações e das emoções. Sentir-se bombástico. Essa é a palavra de ordem. Causar. O que, para quem e para onde ninguém sabe muito bem.

Particularmente acho que é uma fase necessária, que a maioria das pessoas precisa enfrentar. Seja no carnaval, seja no feriado de Zumbi. É importante que nos sintamos deslumbrantes e potencialmente extraordinários. O problema é quando isso nunca passa. Fica perigoso e, acima de tudo, fica muito feio.

Bauman tem um livro que se chama Vidas líquidas (título bastante ridicularizado pelos meus irmãos). Nele, o autor fala sobre essa fluidez desenfreada das relações e essa não permanência cogente. Eu iria além, acho que muitos desses laços foram como que projetadas por uma luz: um Datashow emocional, expõe um super laço que está ali enquanto não precisamos toca-lo.

Se os nossos pais e avós reclamavam das relações rígidas e sufocantes pelas quais tiveram que sobreviver; nós, por outro lado, talvez nos queixemos da efemeridade das coisas. Rápido e ligeiro: curto e fugaz.

Não vou aqui evocar textos bíblicos, nem empunhar um tom de preciosismo. Mas penso que as pessoas estão muito sem esperanças nelas mesmas e nas outras, de modo que escolhem não perseverar. Talvez o que mais venha me incomodando, nessa vida adulta, é uma espécie de realidade aparente de que o amor não existe. Quando falo em amor, digo amor mesmo. Daqueles dos bons. E mais, quando ele existe, não garante felicidade.

Não tenho as respostas para todos esses questionamentos. Primeiro, porque não sou guru, segundo, porque não sou tão esperta assim. Só sei que está tudo feito de papelão e ki-suco. Uns sentimentos pobres e descartáveis que oferecemos a quem nos procura. Cobre-se a tatuagem com um tubarão lunático, meia dúzias de fotos charmantes na rede social e pronto. Acabou. E o pior, acaba mesmo.

Eu acho impressionante. Não é que ficaremos por aí chutando pedra, bebendo cachaça no Bar do Bigode. Mas esse detox instantâneo da paixão não é para mim não. Quando a gente arranca qualquer coisa do peito, dói. Mesmo que seja erva daninha. Aquela pessoa ficou o doninho do seu core e destronar é sempre uma revolução sangrenta.

O mais incrível de tudo é que ninguém domina a arte do caimento de ficha. Dá um clique e pronto. A gente se apaixona. Clic. A gente desama. Clic. Nunca mais passo por isso. Clic. Lá vem estória.


A gente namora, casa, pega. Gosta do marido, mas amou o peguete mais que  tudo. De todos os sentimentos, o amor é o mais livre. Amemo-nos-me.

Nenhum comentário: