9.12.08

Conta de letra

O meu conto tem que ser pequeno, porque há pouco papel.
Tanto desmatamento, mas pouco papel meu.
Deve ter caído em mãos erradas e, se conteriam poesias, agora terão impostos gravados neles.
Papel escasso.

As palavras são poucas e resumidas. Sem tarifas há pouco o que falar. Sem estatísticas, pouca verdade.
Números não mentem. Pessoas sim.
Associemo-nos às calculadoras: seguras e serventes.
Nada de conversa ou fé. Promessas, projetos. Apelos.
Calculadora, não chora, nunca teve o coração partido.

Aprendamos com as coisas a nos desumanizar.
Não peça nada que não seja aritmético.
Há operações impossíveis ou extensas por demais.
Não cabe.
Sem excessos. Não há vergonha, só resultados.
Injustificado é o pranto e a insistência.

Há, repito, operações impossíveis ou extensas por demais. Não cabe.
Papel escasso, o conto tem que ser pequeno.
Pouco papel meu. Mãos erradas.

Uma pena desperdiçar essa vida literal, alfabetizada.
Porém, número é quase letra. Número é letra de contar.
Símbolo
de contos.

Para demonstrar, nos serve a seguinte expressão:
1+1=0. História antiga de duas pessoas que se amam, mas se arrancam da conta. Para ficar nada.
Zero é símbolo do vazio.

Minha esperança é que os números se rendam à poesia e, quando os empurrarem pro visor, que os símbolos da razão contem sobre o amor. Que façam as contas mais loucas.
A aritmética mais linda.

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