Há um boato, já bem comprovado, da desaparição de uma mulher inteira. Seu nome já indica mau presságio: Sumida. O nome.
Apalpando o começo disso tudo, descobri:
Sumida era moça em vias de se formar mulher. Tinha idade de gente jovem. Tinha cabelo grande, olho aberto, mãos enormes. Era também toda castanha, menos a pele, porque se alvoreceu desde muito e hoje vive como ontem. Branca. Queria ser castanha toda, até a pele (menos os dentes).
Sumida era pessoa de coração e veias. Sente e transmite. Tum Tum. Sente e transmite.
E numa quarta-feira, durante uma transfusão de sangue, descobriu que lhe faltava um cílio.
Foi como iniciou.
Eu que sou contadora sinistra, alisei as razões e descobri a causa: Mágoa.
Explico, para desafogar sua curiosidade. Toda vez que Sumida se sentida triste: Zim. Sumia-se. Mas reaparecia logo, conforme a gravidade do sentimento. Uma vez, porém, foi tão violento que quando reapareceu, faltou-lhe uma mecha de cabelo. E mecha gorda. A solução foi a dos calvos-de-um-lado-só: jogou o cabelo pro lado e ficou disfarçado. Se passasse vento, mostrava.
Houve uma época, isso já coisa íntima, houve uma época em que a garota andava meio apaixonada. Todos são sabedores que trâmites amorosos põem tudo a perigo. Sobreveio uma dúvida no coração de Sumida: "será que era amada/gostada/querida por Tudão?".
Tudão era gente fina. No entanto, gente-homem, daqueles meio trancados que que gotejam uma ou outra flor. E sem flores não há como saber de nada.
Foi um tempo de angústia, um sufoco daqueles. E de tanto sumiço, Sumida acabava desmaiando, nervosa. Por estar tão ausente.
O reboliço não acaba por aqui não. Tudão planava e Sumida sem saber se ele pousava ou percorria outros ares.
Arrumados os motivos, trombei com o fim.
Foi em dia de primavera que Tudão decidiu que tinha coração. E repleto. De amor. Por mistério ou fofoca, leu o início dessa estória e viu a precisão de flores.
Lido e instruído, foi o matador de todos os pavores de Sumida. Comprou um campo e o floresceu. Narcisos, rosas, aos milhares e de infinita beleza. Assim, pensou, já se dizia alguma coisa e o resto falou de boca mesmo.
Sumida destinatária desse amor, desapareceu inteira, hoje lhe chamam Prendinha. Tudão ficou Fluído. Retomaram o paraíso e se tornaram riacho.
É assim que foi e é assim que é.
4 comentários:
batuta!
um amor seguro, um amor tranqüilo, um amor "prendinha" pra sumida se esbaldar e se aparecer!
Eu estava ansiosa pro final, e pensei que você ía colocar várias coisas...mas esse final foi bem melhor do que as coisas que eu imaginei!
Muito bonito o desfecho em flores!
aiai...
'Foi em dia de primavera que Tudão decidiu que tinha coração. E repleto. De amor.'
ele não DESCOBRIU que tinha coração; ele DECIDIU que tinha um.
Gostei da decisão.
Sou sua fã, Vivi(da)!
beijocas
brisa, Vivi!
suas palavras também são de coração e veias, sabe?
beijos
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