8.8.09

Que é o amor, Dorinha?

É uma espécie de moer de ventos, não acha?

Sim, penso que é como se os pulsos de transportassem mutuamente e ficássemos rarefeitos.

É isso o amor, Dorinha?

Não sei Arlindo, às vezes percebo que o amor é como o teto visto do chão.

E como é?

Arlindo. Do chão vemos quão distantes estão os tetos. O teto para os que se deitam é como a parte de dentro do cume. É o interior do ponto mais alto. O amor é isso, meu bem, é ver de dentro nossas alturas.

E o que se vê de lá?

Sempre se vê o que os olhos mostrarem. Antes de dormir, no silêncio da casa morta, me arrumo no chão, como quem é macia para as pedras e não se arranha em nada que risque. E assim, maleável e morna, rodo meu corpo, barriga apontada para o céu, olhos na parede de cima. O amor, Arlindo, é a parede que nos cobre.

Nos cobre da chuva e das estrelas.

Exatamente, é pela mesma proteção que abrimos mão de brilhos dos universos.

E vale a pena, Dorinha?

Meu querido Arlindo, se não são as estrelas do peito as que reluzem mais e os passos que nos conduzem para o abismo aqueles em que há mais vida. A vida é um puxar de cordas: puxamos profundezas, nos suspendemos a nós mesmos.

O que há de ser de nós, Dorinha? Temos um amor tão forte que ultrapassa nossas realidades.

O que há de ser de nós, Arlindo? Somos tão felizes que sobejaremos eternamente.