22.9.09

Pavão Pavãozinho

Vi um pavão, todo cheio de penas, lustroso, exibicionista, maquiavélico, mal intencionado mesmo. Não venha me dizer que faz parte da sedução e que é em busca de um grande amor que ele se abre colorido. Nada disso. Pavão de rabo de leque quer mesmo é aprisionar a todos pelos olhos. Nunca vi plano tão cruel: demonstrar-se inenarrável. Pois que assim, não há como prevenir ninguém. Por mais que anúncios fossem feitos, explicações extensas e vigorosamente científicas fossem proclamadas.

Um encanto, não sei. Mas vi duas crianças tropeçarem ao vê-lo, uma outra deixou o pirulito cair das mãos, parece que a medida que ele se apresentava, a mão da menina ia afrouxando, como que impotente e arregalada.

Eu falo do que tenho visto. E vi um homem chorar e secar as lágrimas com o jornal, o pessoal que passava teve que segurá-lo, porque ele queria se abraçar no animal pavão. Um escândalo absoluto, começou a juntar gente, policiais foram chamados, mas adivinhe? Exatamente, todos sucumbiam.

Os guardas pegaram seus cassetetes e fizeram um monumento para O Pãvãozão. Naquela confusão alguém começou a reclamar que a obra de arte estava atrapalhando a visão e deu um chute. Então, foi uma montanha de cassetetes golpeando todo mundo na queda. Terrível. Obviamente, uma ambulância foi chamada, chegou com sirenes, luzes vermelhas piscando (aliás, quero ressaltar que era um carro belíssimo). Alarmados, a equipe médica se colocou a postos: talas, injeções, esparadrapo. Havia uma quantidade impressionante de povidine. Ao se aproximarem dos feridos, viram que eles balbuciavam palavras como: plumas, lindo, quero. E apontavam, apontavam e esticavam as mãos em uma direção, como que tentando puxar algo. Já meio amedrontados, os ambulantes que cuidavam dos enfermos olharam: viram!

A arruaça se instalou. Algumas injeções ficaram ali, penduradas no bumbum do paciente. Coitados. Mas não teve para ninguém, o motorista da ambulância, quando percebeu o que acontecia, engatou a primeira e foi na frente de todo mundo para ver o ditoso pavone. Naquele afã, acabou atropelando quatro lagartixas que transitavam pelo local.

E aí se dá o perecimento da estória, já que o pavão era amigo das bichinhas, logo que viu seus corpos estraçalhados, ficou mole, murchou a cauda e foi tristonho andar na grama.

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