7.1.10

Verdade

Deixei de escrever, recentemente. Toda vez que uma palavra escapulia, eu a prensava com os dedos, até se fundisse com o papel e voltasse a não existir. O motivo desta artimanha é um mistério.


Há muitos boatos. Cada um querendo demonstrar aquilo que é insabível. Bobagem. Em um recente mais atual, resolvi mudar de estratégia e escrever fervorosamente. A justificativa também não se dá. A querência de escrever mais ou menos pode ser vazia de motivações.

Se há escrevidão, foi porque gotejou palavra, se há silencidão, é porque as palavras ficaram invisíveis. Tanto faz. O importante é o tato.

Certa vez, entreguei uma poesia em um papel em branco. Tinha linhas azuis porque não consigo escrever reto, mesmo quando escrevo sem escrevência. O destinatário ficou lisonjeado e ao passar as mãos sobre aquele papel, soube a relevância. Relevou os dedos e ia lendo aquilo que não escrevi.

No final, o que se diz é o raso. E é no profundo que se abriga a nossa existência. É no profundo que se alberga a nossa resistência.

E quem tem coragens de tocar o outro assim: quando ele se aparenta com o que não se vê?: quando o outro é tão extenso, que não cabe na visão? Ninguém se refrigera no fato de não haver respostas plausíveis. A questão que desvendei é bem descobrível a olho nu: o desóbvio tem aspecto de demônio.

Veja que quando se roça no desconhecido, a reação da pele é se eriçar. Cheia de arrepios. Por exemplo, escrever em branco não é coisa certa de se fazer. Apossível. Da mesma forma que não se deve pressionar as palavras contra o papel. Sem mencionar que não é normal escrever como sanfona: muito e depois pouco.

Se há surpresas ou desconexões, ora, o que se demonstra logo é a necessidade de uma solução. A solução que afugente o demônio do desóbvio. Parece que as mãos só estão bem se estiverem dadas. Mãos dativas. Aquele confortozinho de dez dedos. Quem esqueceu que as mãos são autônomas?

E quem desmencionou que algumas palavras podem ser assintomáticas? Há escritos e mais escritos. Eu escrevo vazio e cheio. Com palavras ou sem, porque a minha expressão de alma já ultrapassou a necessidade de ser real. Basta ser verdade.

Um comentário:

Unknown disse...

estava sentindo falta das suas palavras. Verdade.
me emocionei com essas aqui. profundas, extensas como uma cicatriz. deixam uma marca n'alma e no coração.