17.2.13

Com partir. Com dançando.

O meu coração tem pressa em partir.
Ele quer ser arrastado em uma corrente marítma e percorrer milhas e mais milhas bombeando oceanos.
Ah, e se eu vejo um par de olhos, imagino as paisagens que já se colocaram sob eles. Ah, e se eu vejo uma boca imagino as poesias proferidas. Ah, mas o vento parou. Ah, mas a música cessa antes dos tempos. O eco ainda se debate por entre as paredes, penetrou no concreto, abalou sólidas estruturas. Ah, mas nada ruiu. Ah, nem mais reinei.
O fio se rompeu.
Ah, maldade. Ah! Delírio. Ah, dor no peito.
Fui atravessada pela terra. Fechei os olhos e dentro deles havia chão. Por todos os interiores, solo. Não há levezas que caibam nessa tristeza. Fui muito triste. Fui toda preeenchida por lágrimas: meu cabelo evaporou com o sol, meus dentes condesaram. Acabou o sorriso e o penteado, foram todos para as nuvens, no ciclo de sempre, chover em algum lugar.
Ah e eu fiquei ressequida. Minhas mãos foram se tornando como raízes, como a copa de uma árvore sem folhas. Minhas mãos estavam vazias e rígidas.
Contínuas. Continua.
As. As mulheres do meu bairro são felizes. Comem almôndegas fritas assistindo novela das 6. Criam seus filhos, cuidam de seus maridos. Sabem da felicidade.
A felicidade, meu caro, é bem simples e consiste no seguinte negócio: tomar suco de laranja a vontade, ter com quem contar estrelas e possuir uma meia quente e velha e esgarçada.
A beleza da complexidade é uma falácia. Eu mesma sou um grande sofisma. Carrego diversas premissas falseadas. Todos, em certa medida, somos farsantes. Alguns burgueses, outros atletas, outros radialistas.
Há tantos rótulos quanto inovações. E cada vez que pretendo ser essencial e me livrar de dogmas, acabo criando deuses e máscaras. E me escravizando para esse paradigma que invento.
Faço mudanças para alcançar o de sempre. É a mesma carcaça. O mesmo esterco. O mesmo nada.
Eu percorro os meus universos e percebo com clareza este ponto em comum: o vazio. Veja que há abismos no céu, no mar, na terra. E há abismos dentro dos nossos olhos, no nosso peito, em nossa razão.
A minha razão, desprovida de qualquer senso de dignidade, sai fuçando os meus sentimentos e escolhendo quais devem imperar. E numa matança desenfreada extermina prazeres pequenos, mas vitais.
A razão foi tão eficiente que pouco restou. Sou um corpo-máquina, onde só se ouve o barulho das minhas hemácias, dos meus néfrons. O sentimento, morto que foi, escorreu para os meus pés. E cada passo dói a alma. Sem inquietar o corpo. Tornei-me espera. Qual será o meu ofício?

Nenhum comentário: