8.9.13

Souer

Veja bem. Os mundos se fundiram e eu sonho um passado com novos personagens. Como se uma caçada descontrolada se desenrolasse atrás de mim. E cada passo fosse uma fuga, ínfima, infinita. Onde tudo me persegue, mas nada me alcança.

Eu sigo correndo, atropelando o vazio, percorrendo paisagens. Um medo me estrangula a garganta. Uma tonteira: um veneno qualquer que invade meus olhos. E minha boca se abre, meu corpo arfa, minha saliva pendente. Caio de joelhos, em uma terra de lama. O mundo gira, para, e as emoções desfilam vagarosamente, mostrando dentes e perfume. Intangíveis. Irrenunciáveis.

Minha boca está dormente e você diz que é cocaína. Pede desculpas. Eu fico confusa. Vamos para outro lugar. Vamos. Minha boca lateja. O que é cocaína? O mundo  fica piscando enquanto eu me equilibro nos meus passos. Muita gente em um espaço tão curto. Você some. Eu não me importo. Quer maconha? Não. Vamos para outro lugar? Vamos. Onde? Não sei. Minha boca está estranha. Logo passa. Não entendo o que você fala, você inventa sons que não estão na minha linguagem. Mas minhas mãos estão na sua nuca. Ambas apoiadas em sua altura.

Pegue suas coisas. Não sei da minha bolsa. Onde está sua identidade? Perdi, você tem dinheiro? Tenho. Mas vou pegar mais. Onde? No banco. Está tarde. No caminho. Táxi. Queremos um quarto. Cruzamos uma ponte, as luzes são amareladas, o caminho parece percorrer a mim mesma. Aqui está senhorita. Desço do carro, mas não há vagas. Queremos um quarto. Mas não há. Há um congresso de metalúrgicos na cidade. E todos dormem, entediados, ocupando nossas vagas. Queremos um quarto. Aqui há, mas é caro. Caro quanto? Ele paga. Ele paga tudo, dá moedas para o táxi. Eu abro sua carteira. Preencho fichas, invento nomes. Não tenho documentos. Sem problemas. Aqui a chave. Queremos um quarto.

E seus lábios se apertam. Um quarto bege com colcha marrom. Um abajur fracassado, toalhas limpas nos meus braços. Sua pressa acabou e você passa a matutar. A investigar meu pescoço, a desfilar sua força. Acordo nua e você com uma cueca furada, um rasgo junto ao elástico. Precisamos ir. Você com os olhos cerrados, pele queimada do sol, pulseiras das mais diversas. Seu cabelo reluz. Acorda. Não. Acorda. Hm. Senta-se na cama. Abre um mapa. E me aponta uma lavanderia. Confere o dinheiro. Não roubei nada. Mas pensei em abandona-lo. Mas nunca aprendi isso.

Depois de um tempo lembra de mim, pega minha mão e beija. O taxista sorri. Estamos voltando. Mas você não me ama. Não vou com você até o fim. Despeço-me com um beijo seco, estéril. Alívio. Dá sua chegada e sua partida. Sei do seu nome e da sua finitude. Que assim seja.

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