9.4.09

Mortidão

A morte veio ter comigo. Aborrecida, mandei que tomasse conta da sua própria vida. A morte, coitada, sem saber como existir, arregalou os olhos e encolheu os ombros.

- E como? - a morte soou.
- Não sei bem. A gente vive sem saber como funciona. Uma espécie de amostra grátis por tempo indefinido.
- E se não gostar, tem como trocar? - a morte questionou.
- Tem não. Quer dizer, tem. Trocar não, mas tem como morrer.
- E só? - perguntou mortífera.
- Também é possível dar guinada.
- Como é guinada? - perguntou, perguntando a morte.
- Pintar cabelo, emagrecer. Correr, virar gostosa. Comprar roupa. Arrumar namorado careca e dizer que nunca esteve mais feliz.
- E serve para quê? - morte.
- Para os outros. Para esfregar vida na cara deles.
- E sobra algo para pessoa? - perguntou já se sabe quem.
- Contas, trabalho. Salto alto. Calo e peruca. Status!
- E status de quê?
- Status de quem vive.

A morte pensava que ninguém morria vivendo. Na verdade, ficou extasiada de felicidade, descobriu-se útil e presente na vida de tantos.
Morte amiga e cotidiana. Morte de todos os dias.

2 comentários:

patrícia disse...

A morte, então, parece que não sabe de nada. A gente burla ela vivendo e burla ela morrendo?

Lembrei de Jesus, então, que pôs a morte no lugar certo. Ela, já tão desvalorizada, mata, mas se faz porta pra eternidade.

E depois, a gente morre todo dia.
Justo, né, Vivi?

eu gostei muito disso que você escreveu, minha nossa! (:

Gil disse...

Adorei seu blog! Como não tropecei nele antes?
Estou favoritando lá no meu, se não se importa...
Abraços!