20.4.09

O conto do amor arruinado

Minhas pernas se puseram a andar por entre meus pensamentos. Subitamente percebi um caminho de dor e tristeza, segui-o. Eis que foi cheio de temor que trilhei o primeiro trecho. Depois, a idéia de que era esse o meu destino me assaltou e levou consigo todo desespero.

Agora percebo que o caminho é infinito e a linha de chegada é o lugar de onde vim.
Fico com a resolução de mudar meu passado errante, um passatempo mental de ser feliz.

Agora, mais um vez, agora conto meu conto.
Arruinado pelo amor, por certo que foi.

Imagine você os olhos onde se plantam bananeiras. Olhos cor de folha seca. Marrom-terra-folha-seca.
Imagine você que eles brilhem. Seria estarrecedor se não fosse enebriante. Talvez seja ambas as coisas. A imagem dos olhos, digo.

Os donos, os olhos, se alocaram num corpo. Corpo de Esméria. Admito que é com profundo pavor e depressão que escrevo. Não tenho saudades, só distância.
Esméria era má de tanto ser boa. Não era possível confiar nela. Boa não era, por certo. Era boa de tão má.

O mal se deu - vamos ao conto?!- quando percebi que Esméria comia esperança.

É boba a estória, só conto porque tudo aqui está perdido. É um conto fracassado.

Um dia, vi Esméria mastigando algo, algo que de doce tinha doçura. Ela mastigava o invisível e escorria riso por entre seus lábios.
Comecei a desconfiar da menina. Quem é que come uma coisa boa e finita...que faz isso: acaba com tudo de bom? Come a comida por mais que se acabe...e depois se ri?

Maldade.

Esméria comia palavras minhas, recitadas em frente ao seu nariz enquanto meus olhos fitavam sua boca. Conforme eu falava, Esméria repetia e as engolia. Depois se ria, risonha, feliz, trêmula. Escorria, escoava...rio no queixo, gotas no chão. Maldade.

Se quisesse palavras para engolir, que procurasse outro.
Foi inútil retroceder. Esméria deixou brotar o amor, engolido na terra do peito. Gerou as folhas, tronco. Os frutos.
Ela toda virou árvore. Suas pernas raízes.

Se Esméria quisesse. Maldade.
Era tão bonito ver Esméria. Sua paz tão notória.

Se quisesse, a tal da Esméria, ser feliz...que procurasse outro.

E assim que acaba o conto: Esméria morreu de saudade e eu prossegui meu caminho.

4 comentários:

Fernanda. disse...

"Era tão bonito ver Esméria. Sua paz tão notória..."

aiai, essas coisas[de palavras] saem de você, e me dão satisfação. Fico atenta pra vir aqui.

Mah disse...

nussa.
tô na área, hein.
mas q babado , c ter esse blog e só agora eu saber..
me sinto convidada a um clube vip.

muah, muah!

♥amo-te.

Unknown disse...

Inspirador o som que sai dessa Vitrola!
Amei as suas palavras da forma em que se apresentam. Bom demais!


[O Miguel me indicou o seu blogue. Favoritei no meu, espero que não se importe! www.meupianoemverso.wordpress.com]

Miguel Del Castillo disse...

(sim, to fazendo propaganda do seu blog por aí. desculpa? :~)

marrom-terra-folha-seca.
Olhos por todos os lados?
aqui, lá no meu.

"Esméria deixou brotar o amor, engolido na terra do peito. Gerou as folhas, tronco. Os frutos."

seus textos transbordam, obrigado