16.11.09

Esquina

Outro dia parei na esquina da minha alma
e fiquei
ali
aguardando quem cruzaria aquele espaço.

Não houve pessoa corpórea
quem apareceu foi uma figura mitológica
ele tinha nariz de plástico vermelho
cabelo de peruca, em dois tufos
laterais
a boca dele era pintada e
nos olhos havia desenhos
a sua roupa era colorida
com bolinhas
e pendurada por um suspensório
roupa que se segura nos ombros

dentes amarelos e
aspecto de fantasia

seria lícito aparecer um
palhaço
quando estamos ouvindo piano e com ares de quem
fuma um charuto de flores?

que gracinha
que tamanco saltitante
sapateado
na esquina de mim: um espetáculo informal
do que seja simples e antigo

o palhaço ri pra mim
uma menina sapateia
eia! Sou eu! Com aqueles sapatos
sou a pareja dele
e juntos

balançamos o corpo numa dançazinha ridícula
daqueles que se divertem

de repente
recomeça aquela música clássica
lenta
com coro
e em francês

de repente
em um reflexo inesperado
eu me crio asas
e o palhaço vira
aurora boreal

que lindo!
aquelas nuvens de céus
percorrendo meu corpo
seria isso amor?
ou poesia?

- imaginação! – grita o palhaço.

depois de passado tudo isso
depois dos olhos abertos
depois que desdobrei a dita esquina e a fiz rua reta

me rio eu
me deságuo toda
me percorro

em sensações inventadas.

2 comentários:

Luciana Freitas disse...

a sua vitrola é cheia de vida e poesia. e memórias inventadas e vividas. que beleza!

"outro dia parei na esquina da minha alma e fiquei ali aguardando quem cruzaria aquele espaço."

vou espalhar isso por aí!

beijos!!!

Miguel Del Castillo disse...

"seria lícito aparecer um
palhaço
quando estamos ouvindo piano e com ares de quem
fuma um charuto de flores?"

:~