24.7.13

Parte 5. Consulta


- O que há com você?
- Doutor, meu peito dói. E eu penso que é meu coração.
- Palpitação?
- Não, doutor. Quase nem palpita mais.
- E o que é então?
- Dá assim uma pontada e minha cabeça se estrangula e os pensamentos começam a girar, doutor.
- Alguma coisa mudou nos seus hábitos?
- Ah sim, doutor. Minha vida mudou muito.
- A alimentação?
- Não, doutor. Isso não.
- E como você se sente?
- Com um vazio no peito. Parece uma espécie de autocombustão, doutor. Parece que minha língua se esfarela e me dá um nó na garganta. Minha nuca fica formigando e meu rosto fica quente, doutor.
- Certo.
[pausa] 
- E desde quando isso vem acontecendo?
- Seis meses, um ano, doutor.
- Oito meses.
- Sim, oito meses amanhã, doutor.
- E como é essa dor? Onde ela começa?
- Começa quando sinto muita saudade, vejo uma foto, descubro sobre sua nova família ou coisa que o valha, doutor. Fico tonteada, minhas pernas ficam sem jeito e me dá náuseas. Minha vontade é vomitar tudo, mas parece que está preso dentro de mim, doutor.
- Essa não é minha especialidade.
- O doutor não é cardiologista?
- Sou.
-E não sabe qual é o meu problema, doutor?
- Sei.
- Então porque não me diz, doutor.
- Porque é caso raro e eu tenho medo de me precipitar.
- Mas e se eu morrer, doutor?
- É um risco.
- O que o doutor recomenda?
- Paciência.
- Marcos, você ainda me ama?
- Provavelmente não.
- O que há com você?
- É só tristeza, doutor.

[continua...]

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