E então acabou. Eu lembro de quando era pequena, por algum motivo cósmico, eu tinha muita remela. Talvez porque fosse criança e não lavasse o rosto quando acordava, driblava a fiscalização de asseio e tentava ganhar o mundo. Mas lá estava minha mãe, uma barricada antes da porta. Com os dedos molhados de saliva, ela me limpava e brigava comigo. Lembro de ter chorado mais de uma vez porque ela tinha passado baba em mim. Passei a lavar o rosto.
Um ano novo é mais ou menos assim, a gente tenta se safar dizendo que rolou um cochilo, mas não tem jeito: ou a gente se limpa ou vão nos higienizar com cuspe durante um bom tempo. Por isso, meu caro, é melhor lavar a cara e encarar que já estamos despertos: prontinhos pro que der e vier.
Saia bem bonito para esse novo calendário. Seja sexy, charmoso e cativante. Cada mês do ano uma fantasia. Essa é a minha perspectiva. Mas você bem pode encarar a vida com aquela folhinha da mercearia. Feia que dói. Com letras azuis sobre o fundo amarelo te desejando boas festas. Continuo achando que quem deve fazer seu tempo é você, estampar suas próprias gravuras e dizeres, marcando sua pequena Era.
Eu sei que vou sambar no caixão de 2014. Ê aninho tinhoso, arrancou meu couro, furou meu bucho. No dia 31, às 23:59, vou gritar no meio da praia, escandalizar a vovó: "ano bacurento, eu vou e você fica". Vou combinar uma série de gestos obscenos, pra ofender as safadezas que me aconteceram. Um exorcismo completo.
Rodou o ponteiro e. Meia noite vou estar sorrindo. De branquinho, pulando ondinha, lambendo a lambida da minha cachorra. Vou comer sete uvas, engolindo os caroços. Mentalizar desejos e pedidos. Vou dar gritinhos com os fogos. Como sempre fiz. Não importa quantas vezes dê errado, a gente tem que zerar os medidores. Felicidade é recomeçar leve e breve. A vida é aqui e agora, e o que se foi, não pode nos levar.
E que venha o carnaval.
15.12.14
A verdade eu sei de core.
Sinto, sinto muito. A vida é uma
composição engraçada de encontros. A sensação de que a pessoa se foi é brutal
para mim. Uma morte vivente onde substituímos os apelidos, o papo, os beijinhos
no pescoço. A verdade é que há substitutos melhores que outros. Tem gente que é
mais sedutora, que encaixa na nossa existência de uma maneira deliciosa e é bom
demais sorver essa sensação.
Uma vez me apaixonei por um cara
que era plantador de cerejas. Com um sotaque de alemão, ele me dizia que era um farm boy. Adorava falar sobre as roupas
térmicas dele. Na hora de dizer adeus a gente chorou, bêbados, cansados de
tanta alegria. Foi uma das noites mais divertidas da minha vida. Ele fazia
dança de salão lá nos Alpes e me fez rodar muitíssimo ao som daquela salsa
desenfreada. Ele plantou bananeira e andou de cabeça pra baixo na linha do
trem, pra me impressionar. E impressionou. Muito. Nosso primeiro beijo foi como
meter os dedos num cabelo muito sedoso: macio, contínuo: um passeio.
Ontem achei um bilhetinho que ele
me deixou, dizendo que foi wonderful o
tempo together. O que mais me emocionou
foi ele tentando me explicar, dispondo de algumas poucas palavras em inglês, um
encantamento que estava acima de qualquer linguagem. Ele me dizia que olhos
azuis são gelados, mas os meus eram marrons e grandes como os da Bambi. Ele
disse que cabelos lisos são boring,
mas os meus eram...eram...e fez um espiral com as mãos e pegou um cacho do meu
cabelo. I’m just a farm boy, ele
dizia. E se embolava com ele mesmo dizendo que meu sorriso era aberto e beautiful. Ciente de que eu o havia
escolhido, desde o começo, me perguntava why
me?
Porque eu gostava do nome dele.
Gostava do silêncio dele, extremamente confortável. E gostava muito do jeito
como ele me olhava, pausado, grave. Ele piscava pouco, mexia pouco a cabeça e
olhava, olhava. Enquanto tudo se movia, ele estava lá. Eu me sentia
completamente segura.
Essas pessoas são estrelas
cadentes, a gente vê a trajetória, tem um desejo, mas não sabemos onde vai
parar. Geralmente some no ar. Geralmente sim, mein lieber.
10.12.14
Cumpady, experiência de vida.
Ontem fui fazer uma audiência pra lá de Bom Jardim, depois ali de Cordeiro. Cantagalo city. Como era perto (5h de viagem), fui e voltei no mesmo dia. Como mudaram os pontos de ônibus do Centro, pensei que iria andar 25m, mas tive que andar até a Leopoldina pra pegar o busão. Como castigo é pouco, só tinha lugar em pé no coletivo. Resoluta, forte e remelenta fui lá para o fundo.
Foi quando um carinha se encaixou em mim. Mas não fez safadeza não: ele estava de costas e era assim muito alto, de modo que a bunda dele se encaixou em cima da minha. Eu dei uma rebolada, pra ver se desfazia a posição, mas o certo alguém não queria. Vinha uma curva e paf, lá estava a bunda dele na minha coluna, amparado pelos meus glúteos cansados. Depois de muito lutar, me resignei e carreguei as nádegas dele Av. Brasil a fora.
Para meu completo susto, lá para as bandas de Vigário ele me catucou: dedinho no ombro. Como quem espera a revelação do vilão do Scooby-doo, virei lentamente. "Tem lugar aqui." Bom, tinha mesmo, na frente dele. Meio que hipnotizada, sorri e sentei. Para o meu esbaforimento geral ele tinha os cabelos de Compadi Washington e uma blusa vermelha do Tcheguevaran. Pirei. Porque sabe o que isso significa?
Absolutamente nada. Só que servi de suporte de traseiro e ainda há quem use Kolene - socialisticamente.
14.11.14
Títulos e glória
Tava suave na nave (busão da Master), quando um bêbado muitcho crazy resolveu embarcar. Ele fez duas amigas: uma velhinha de 80 anos e uma senhorinha robusta de uns cinquenta-e-blau. Lá para as tantas ele resolveu contar do filme que assistiu: CANIBAL. - Ontem vi um filme canibal, onde uma pessoa comia outras pessoas, comia braço, perna, até coração comia.
A velhinha se alarmou: - Mas comia de verdade?
- Comia - ele disse. Comia sim. A gordinha achou engraçado e começou a sorrir com um arzinho de superioridade de quem pensa que sabe das coisas. O Bêbo fez questão de combater sua arrogância com a realidade dos fatos: - Você está rindo porque não estava lá, com essa fofura toda, ia rodar rápido e alimentar uns dez canibal.
Os passageiros do bus-Master se escangalharam de rir. A cinquenta-e-blau achou foi bom, se sentiu assim uma delícia a ponto de ser devorada. Piscou, trejeitou e arrumou o cabelo atrás da orelha. Gostosa. Absolutamente hot. Eu observava tudo de camarote, quieta, quase sem respirar. Mas ele me notou.
-Psiu.
Fiz que não percebi, continuei a descascar os esmaltes das unhas e cantarolar uma música do Blitz.
Ele: - Ei, psiu, eu te conheço.
Olhei. Não resisti.
- Você é da Globo?
Ai. Boom: - Sim, sou! Trabalho no Faustão!
Ele quase engasgou de nervoso: Sabia! Te conheço de te ver.
- Lógico, todo domingo estou no ar. Sou apresentadora no Faustão.
Ele abria e fechava a boca, atrapalhado nas possibilidades: - Me arranja um emprego na Globo, o primeiro salário é seu.
Fiquei pensativa, como que ponderando, e resolvi aceitar a proposta: - Mas vai ser todo meu.
- Sim, todo. TODO! O primeiro é todo seu.
Ele levantou os olhos e viu uma mulher toda de rosa, cheia de maquiagem e um ar lustroso. - Olha que garota linda, me apontou com os olhos.
- Eu a conheço, trabalha comigo no Faustão - ela deu um sorriso faceiro e fez uma pose global. Bebim estava completamente fascinado. Duas, duas estrelas.
- Qual o seu nome - ele me perguntou.
Pensei, curti, proferi: - Clara. Ele me pediu: pergunta meu nome!
Pergunto: - Qual seu nome. Ele, esperto sem ser vulgar, disse logo: Tingana!
- Tingana, no domingo vou mandar um beijo pra você, na hora do Faustão.
Ah, mas isso era demais. Ele começou a se mexer no banco, eu tinha acreditado que aquele era o nome dele e mal podia conter sua excitação, como uma criança que recebe uma bala 7 belo de um quilo. Ele olhou pra mim, colocou as mãos nas bochechas e disse: - Você é a mais linda. Eu te amo. Você é a Miss Brasil.
O povo da lotação se animou: vários gritinhos: arrasou!: tá podendo hein!: êlaiá. Mas ele não se importava. A paixão o havia dominado. - Miss Brasil, você é linda no Faustão!
Meu ponto tinha chegado. De forma romântica, deu um grito bem aberto: Miss Brasil, você é a melhor!
O vendedor de legumes (qualquer saquinho por 2 reais) deu uma conferida em mim e pareceu concordar com Bebucho. Reconhecimento em Duque de Caxias. Nada mais lindo. Nada mais forte. Nada mais verdadeiro.
À minha coroação, um brinde!
6.11.14
R.e-leve
Meu corpo está imunodepressor.
Qualquer tédio ele se acende com uma febrezinha. Meu pulso se enfraquece e meu
olho fecha. Fico cansada de rir e só quero dormir. Meu corpo está de saco cheio
de comer em lugares que não gosto, de ir para o fórum da Pavuna, de ver juiz
careca.
Meu corpo quer sol no corpo, besuntado
com suor, lambido de mar, cochilo com livro na cara. Meu corpo sabe o que é
bom. Por causa disso, meu sangue já está ficando ralo, as hemácias estão
metendo o pé. Acho que preciso me apaixonar, para elas quererem ficar. Porque
aí nós vamos ganhar sonho com recheio de doce de leite, a gente vai tomar água
de coco pra dedéu e as hemácias vão se amarrar. Os leucócitos também não estão
de boa. E isso me preocupa. O médico disse que eu tô na borderline e que eu
tenho que ter uma vida mais light. Filho, eu gosto de intense. Vê se cresce.
Os leucócitos vão voltar. Vou dar
um jeito. Vou comer fígado. Meu chefe
mandou eu comer inhame. Ai. Meu Deus, eu mexo com tanto papel que estou ficando
fraca. Essa porra é que está me dando anemia. Um monte de palavra brega.
Acórdão, indeferido, indeferido. Tinha que ser wave, croissant, pelota. Iria
ser outro nível.
Fico sem entender se eles
brigaram entre si ou se estão os dois contra mim. Hemácia vaca. Minhas células
vão morrer se você não se proliferar logo. Falta oxigênio e os carai. Meu olho
ficou fulo com isso, só quer se fechar, esquecer do mundo, vê mulher gorda e
irrita meu cérebro. Uma guerra sanguino.lenta.
Agora eu te pergunto: Leucócito
não é quem protege a parada toda? E como assim, sabe. Só tenho 100 a mais do
mínimo, tenho 4600. É o que digo. Semana passada levei todo mundo pro samba.
Dei cerveja pra geral. Nessa hora ninguém se fagocita, ninguém arreda o pé. Mas
na hora que enfiam uma seringa do tamanho do Japão na minha veia, a galera
arrega. Leucócito arregão. O que faz leucócito aprumar? Alho? Nem sei.
Pra você ver, a gente tem o corpo
completo: mamilo, boca, tornozelo. Mas nunca é suficiente. Aposto que foram
atrás de um atleta qualquer. Corpo sarado, ele
toma suco detox. Vai vai todo mundo, me deixa só com o esqueleto e com as
veias, que eu não preciso de vocês. Vou importar sangue puro, sangue sueco, com
ascendência em libras. Vou dar do bom e do melhor para os meus núcleos
celulares: prometo! Quem ficar, não vai se arrepender. Vamos viajar no verão.
Vou contratar um massagista professor de axé. Não ouço mais Naldo. Acabou, juro.
Tocou, a gente rala. Sexo que eu não posso garantir: a vida é um moinho e essas
coisas são complicadas.
Hema, Leuc, conversem com o
Lipídio, cara. Ele sempre tá por aqui. Me adora. Não me larga. Acho que vocês
deveriam reconsiderar e. E, sei lá, ficar comigo.
5.11.14
O(u)caso
Se você me perguntar como
aconteceu, lhe digo que foi feitiço. De uma hora para outra recebi um peteleco
no coração e ele voltou a bater. Destrambelhado, lambendo os beiços, cabelo
amassado, coçando a bunda para tentar entender o mundo.
A surpresa do movimento foi tanta
que. Que nem sei. Fiquei assim meio boiando, comendo flores pelo caminho.
Sonhei com o mar ártico. Não lembro quando disse não, nem quando disse sim.
Esqueci se cheguei a falar algo. Foi encantamento: perdi as estribeiras:
gritei: fiz: aconteci. Cochilei e adormeci.
Aí você me pergunta: que houve?
Rapaz, bateu um vento e meu peito
levantou voo(u).
22.10.14
Mostarda e mel
Na sala em que eu trabalho há uma
foto de Buenos Aires. Uma panorâmica da Avenida 9 de Julio. Uns prédios
enormes, um anúncio da Samsung e o Obelisco. De vez em quando me pego dentro da
cidade, olhando para o céu estupidamente azul, observando aqueles carros da
década de 90 passarem. Nostalgia, acho. Essa viagem me dá nostalgia porque não
convivo mais com ninguém que tenha participado dela: nem eu sou a mesma. Sinto
saudade daquelas pessoas. Sinto muito. Por outro lado, olho ao redor e vejo
que, em maior ou menor medida, estamos todos bem. Então, tudo certo.
Acho que poucas coisas são mais deliciosas
do que ser chamada de guapa, saí da
boca deles se derramando. Que linda, que
linda. Numa espécie de feitiço, os hermanos são todos seus. Eles são assim
charmosos e possuem umas jaquetas e penteados impronunciáveis. Umas barbichas
estranhas: absolutamente irresistíveis: a Argentina.
Eu sempre achei que me
apaixonaria só uma vez. Mas, posso dizer, minha profecia ficou caduca. Me
apaixonei uma vez e amei outra vez. Mentira. Não faço a mínima ideia de como
classificar minhas vivências. Só sei que foi bonito, intenso e bom. Depois, foi
o caos. Dor no peito, sensação de finitude completamente sufocante. Assim é a
vida. Uma alternância imprevisível de bala Juquinha com chá de boldo. Uma hora
está tudo muito docinho, outra hora uma amargura difícil de engolir.
Mas, a gente engole. E depois até
repete. Só não sei se a gente se convence de que isso é normal. As coisas se
esfarelam. Areia é farinha de montanha e fica lá na praia, pra sempre beijando
o mar.(Espertinha) Estou farelo de mim mesma sem saber se luto para me recompor
ou se mantenho a nova forma. Umas decisões bizarras e cogentes. Viver é um
grande truc.
E se você perguntar: tá triste,
garota? Digo: olha, tô triste não. Só tô olhando. – Sabe aquele estado de
observação em que ainda não estamos bem certos do que sentir e de como
interpretar os acontecimentos? Aí, a gente fica assim com a alma meio parada,
come esfirra, vê um filme, até que, de uma hora para a outra, a gente desperta,
com um pensamento já pronto e quase tudo resolvido.
Tô olhando e comendo esfirra, meu
senhor. – Na fila de espera de mim mesma, aguardando o ardente desfecho. - E
espera até quando? – Ex-pêra. Não sei, tô numa vida de repolho, na suavidade da
alface americana.
Sabe? – O quê?
Sei lá.
3.10.14
Auto-ajuda nombre deux : tenha calma nas horas de pânico.
Acho isso uma palhaçada,
primeiramente. Se o momento é de nervosismo, não peçam calma, sob pena de desconstituir
o momento mais legítimo de todo ser humano: a agonia.
Mais uma vez, venho dar dicas
inúteis, mas que, prometo, serão honestas e alcançáveis. Veja que estar com
raiva e inconformado pode ser muito importante para resolver situações há muito
negligenciadas. Portanto, eis que vos digo: vomita! Vomita tudinho que está te
sufocando e se o mundo explodir depois, vida que segue. Viveremos em outra
galáxia, então.
Tenho certeza que a maioria das
coisas não ditas e as esperas dissimuladas são a grande causa da nossa
degradação pessoal. Na seleção hercúlea do que podemos ou não dizer, calamos
nossa própria existência e viramos um fantoche desconexo e ridículo.
1) Não seja ridículo.
Não seja ridículo.
Nesse sentido, minha sugestão é
que a angústia, raiva e sensação de que está tudo uma bosta sejam encaradas
como emoções legítimas de serem sentidas e, mais do que isso, legítimas de
serem vividas. Por isso, se alguém vier te acalmar, seja ignorante e estúpido.
Melhor não. Assim acabaremos sozinhos. Por isso, se alguém vier de acalmar,
sorria. Melhor não. Se alguém vier te acalmar, fale: afaste-se ou sofrerá as
consequências.
2) Afaste-se ou sofrerá as consequências.
Faça cara de fúria e de quem come
miojo cru, com fungo, caído na lama do terreno do vizinho (selvagem).
Tem horas que as coisas dão
errado, sim. E é comum que a gente odeie essas fases onde tudo de ruim vem
junto. Se alguém perguntar como você está, diga a verdade. Como você está? Tô horrível.
3) Tô horrível.
Horrível mesmo.
E se alguém vier te perguntar
qual é o seu plano. Diga: Não tenho planos. E se começarem a inventar saídas e
soluções pra sua vida. Bem, a intenção pode até ser boa, mas é como alguém que
tenta escovar os dentes de outra pessoa: cai baba e pasta por todos os lados,
sem que a limpeza seja eficaz.
4) O que fazer?
Você me pergunta.
Eu acho válido não comer, não
tomar banho, desligar o celular. Sem claro que isso afete sua saúde e das
pessoas à volta. Mas o que eu quero dizer é que o luto é vital. Admitir-se
fraco, triste ou desanimado é saudável. É ruim? É! Muito ou pouco? Demais! Mas
são nesses períodos mais críticos em que entramos em maior contato com a gente
mesmo. Sentir dor é terrível, entretanto, aponta para nossa vida e
sensibilidade.
Brigue. Grite. Chore.
Tombe.
Mais tempo, menos tempo, um sorriso se arreganhará na sua cara. E na minha, espero.
29.9.14
Auto-ajuda number one :10 passos para se livrar do stress
PASSO 1- Pare de acreditar em listas idiotas
Sinceramente eu respeito que você esteja nervoso. Te respeito e te considero: de coração pra coração. Mas, nada - NADA - justifica burrice. O stress é um monstro latente e persistente. E é impossível que existam 10 passos para faze-lo sumir. Sinto cortar seu barato, mas: 10 passos para emagrecer com saúde; 15 passos para encontrar seu príncipe e 27 dicas para mais feliz. Não não não. Olha, loser, não vai dar certo. Tópico nunca levou ninguém a nada. Se fosse assim, o sumário seria a coisa mais incrível do mundo. E não é. Sumário é índice e índice é bobo. Seja maduro, por favor.
Resolvi ser inovadora e escrever sobre o stress, não num dia em que meu céu esteja límpido, mas no dia em que morder a cabeça de alguém se mostrou uma opção viável em vários momentos do dia.
Portanto, hoje vou te ensinar sobre como ser mais calmo e nunca sucumbir à ira.
Utilizando um rol exemplificativo, vou te dar algumas dicas. Vamos lá, garotão.
i. Se sua mãe, num momento de tédio raivoso, resolve dizer que você não estende a roupa que veste e não sabe o trabalho que dá. Faça um protesto p a c í f i c o: fique andando pelado pela casa e pergunte se ela quer que você lave a louça.
ii. Se alguém muito fedido sentar do seu lado. E você não tem para onde escapar. Use de honestidade e amor: peide. E faça daquele ambiente um lugar equilibrado, onde você tenha coisas à acrescentar.
iii. Se seu chefe ficar de mimimi, fale: f o d a - s e. Brincadeira. Faz isso não. Vai dar merda. Fica na sua e toma iogurte diet, que a raiva passa.
Gostaria que você estivesse percebendo onde quero chegar: eu não vou te ajudar. Não tem como. Você que arrumou o problema e vai ser você mesmo quem vai ter que resolver. Só acho que ser positivo todas as horas não é saudável. Admitir-se ogro é imprescindível para viver bem.
Não olha pra mim desse jeito. Tá irritadinha: uiuiui. Sabe o que pensei, existe sim dez passos para se livrar do stress: a violência. Caminhe, 10 passos, até a pessoa objeto-de-fúria e dê uma esganadinha. Acaba com o stress. Mas você vai acabar preso. Eu advogo, mas não faço criminal.
Assim termino o primeiro article de self-help: Luv u!
Sinceramente eu respeito que você esteja nervoso. Te respeito e te considero: de coração pra coração. Mas, nada - NADA - justifica burrice. O stress é um monstro latente e persistente. E é impossível que existam 10 passos para faze-lo sumir. Sinto cortar seu barato, mas: 10 passos para emagrecer com saúde; 15 passos para encontrar seu príncipe e 27 dicas para mais feliz. Não não não. Olha, loser, não vai dar certo. Tópico nunca levou ninguém a nada. Se fosse assim, o sumário seria a coisa mais incrível do mundo. E não é. Sumário é índice e índice é bobo. Seja maduro, por favor.
Resolvi ser inovadora e escrever sobre o stress, não num dia em que meu céu esteja límpido, mas no dia em que morder a cabeça de alguém se mostrou uma opção viável em vários momentos do dia.
Portanto, hoje vou te ensinar sobre como ser mais calmo e nunca sucumbir à ira.
Utilizando um rol exemplificativo, vou te dar algumas dicas. Vamos lá, garotão.
i. Se sua mãe, num momento de tédio raivoso, resolve dizer que você não estende a roupa que veste e não sabe o trabalho que dá. Faça um protesto p a c í f i c o: fique andando pelado pela casa e pergunte se ela quer que você lave a louça.
ii. Se alguém muito fedido sentar do seu lado. E você não tem para onde escapar. Use de honestidade e amor: peide. E faça daquele ambiente um lugar equilibrado, onde você tenha coisas à acrescentar.
iii. Se seu chefe ficar de mimimi, fale: f o d a - s e. Brincadeira. Faz isso não. Vai dar merda. Fica na sua e toma iogurte diet, que a raiva passa.
Gostaria que você estivesse percebendo onde quero chegar: eu não vou te ajudar. Não tem como. Você que arrumou o problema e vai ser você mesmo quem vai ter que resolver. Só acho que ser positivo todas as horas não é saudável. Admitir-se ogro é imprescindível para viver bem.
Não olha pra mim desse jeito. Tá irritadinha: uiuiui. Sabe o que pensei, existe sim dez passos para se livrar do stress: a violência. Caminhe, 10 passos, até a pessoa objeto-de-fúria e dê uma esganadinha. Acaba com o stress. Mas você vai acabar preso. Eu advogo, mas não faço criminal.
Assim termino o primeiro article de self-help: Luv u!
28.9.14
Coração vagabundo
Há momentos em nossas vidas que a agonia é tanta que mais parece que vamos morrer sufocados, enforcados em nossas próprias tripas. A gente fica meio sem graça, meio parado sem entender se o golpe nos matou ou se matou tudo à volta. Uma coisa é certa: a desolação.
O pior, meu caro, é quando não há culpados e ninguém pode ser chamado de canalha. Eu tive uma longa cicatriz, remendei meu coração com uns trapos quaisquer, tentando ligar os pedaços esgarçados. Houve quem dissesse que isso não era direito, um coração andar tão roto. Tirei os panos podres e tive coragem de olhar longamente para as minhas feridas. Eram horrorosas e intransponíveis naquele momento. Mas, com esmero e paciência, elas se tornaram mais toleráveis. Houve quem dissesse que ele iria sarar ao todo. No fundo e no raso. E eu acreditei.
Acreditei plenamente que iria ser feliz e, de coração novo, fui me roçando na esperança. Mesmo com medo, ousei vislumbrar um destino mais bondoso. Onde houvesse menos rasgos. Era docinho esse futuro e eu quis te-lo.
Só que foi tudo algodão doce. Coloquei na boca e desapareceu. Só ficou o gosto. Fiquei confusa ao ver tanta cor se desmanchar. Feito uma boca que desmantela depois de dizer "eu te amo". Meu peito começou a arder, com aquela sensação tão conhecida. Acabou e é melhor ficarmos acabados.
Ah, coração vagabundo. Não tenho mais garantias. Não sei mais se ficaremos bem. Tragam os trapos.
Mais uma vez ao pó.
O pior, meu caro, é quando não há culpados e ninguém pode ser chamado de canalha. Eu tive uma longa cicatriz, remendei meu coração com uns trapos quaisquer, tentando ligar os pedaços esgarçados. Houve quem dissesse que isso não era direito, um coração andar tão roto. Tirei os panos podres e tive coragem de olhar longamente para as minhas feridas. Eram horrorosas e intransponíveis naquele momento. Mas, com esmero e paciência, elas se tornaram mais toleráveis. Houve quem dissesse que ele iria sarar ao todo. No fundo e no raso. E eu acreditei.
Acreditei plenamente que iria ser feliz e, de coração novo, fui me roçando na esperança. Mesmo com medo, ousei vislumbrar um destino mais bondoso. Onde houvesse menos rasgos. Era docinho esse futuro e eu quis te-lo.
Só que foi tudo algodão doce. Coloquei na boca e desapareceu. Só ficou o gosto. Fiquei confusa ao ver tanta cor se desmanchar. Feito uma boca que desmantela depois de dizer "eu te amo". Meu peito começou a arder, com aquela sensação tão conhecida. Acabou e é melhor ficarmos acabados.
Ah, coração vagabundo. Não tenho mais garantias. Não sei mais se ficaremos bem. Tragam os trapos.
Mais uma vez ao pó.
18.8.14
De hoje emdia.nte
Ontem antes de dormir, minha
garganta já estava se fechando e meu coração já se afundava no peito. Uma
angústia, tão interminável que eu me encolhi na cama. E fiquei assim por algum
tempo: ouvindo o barulho da casa: a televisão moribunda, o chuveiro jorrando. Tudo
embrulhado numa rotina preguiçosa e quieta.
Até que ouvi alguns passos. Ele
entrou no meu quarto e se deitou do meu lado. Abriu os braços e eu me embrulhei
nele. A sensação de sentar embaixo de uma árvore em um dia estonteantemente
quente e azul. Minha mão sobre uma barriga que respirava, com umbigo e tudo.
Calma. Barriga calma. Acho que amar e ser feliz é poder grudar as orelhas nas
costelas de alguém e poder adormecer com a cabeça amparada por carinhos
sonolentos.
A gente ama bem, na hora do
cansaço extremo: quando a gente sente muito medo e se torna insuportável. A gente
ama mesmo quando sabe que a vida é um furacão que arremessa nossos tesouros
para muito longe.
Mais. Vamos intuindo onde os
pedaços foram pousar e iniciamos uma busca. Vamos ao reencontro. Desenterramos,
limpamos. Aprumamos. E dizemos: você é meu. Amor.
Seja a saúde, seja a doença. A
euforia ou um novo emprego. São tantos os fatores geradores de caos. São golpes
inesperados que nos deixam sem ar e sem lágrimas. Ficamos atônitos. Mas, no
meio disso, nessa perda desenfreada, alguém nos abraça. Um olhar nos resgata e
a gente consegue ter esperança.
E eu acho que isso merece ser
celebrado. Somos um conglomerado de pessoas imperfeitas que se ama. De barrigas
calmas. E mentes agitadas. Com umbigo e tudo, desafundadores de corações,
aparadores de cabeças cansadas. E isso basta. Aliás, sobeja.
11.8.14
Excelsa
O dia demorou a começar. Ao que
parece eu estava transitando em qualquer lugar que não me dizia respeito algum.
Há algumas fases em nossa vida, em que estamos no entre-sonhos. Eu vejo a
dificuldade e o medo de sairmos desse platô. Tivemos um vislumbre, mas aos
poucos, nos perguntamos se o que vimos foi miragem ou se é nosso destino.
Para mim, destino é lugar a ser
conquistado. Aliás, eu percebo que a
vida é um grande formulário em que nós criamos todos os campos. Percebo também,
que há momentos em que não faz diferença se andamos na escuridão ou na luz:
tudo mudou e não conseguimos reconhecer o caminho.
Uma sensação incômoda de
pré-mudança. Tudo parece o mesmo, mas não é. E não sabemos explicar o que
mudou. Só sabemos que não é. E mesmo sem termos nos deslocado, no mesmo cenário,
a continuidade de alguma coisa parece ter sido interrompida.
Será que somos nós quem mudamos?
E o olhar lançado não é capaz de capturar o que fomos. Será que houve um
movimento mais rápido do que fomos capazes de assimilar? E vivemos momentaneamente
em um espectro, uma mistura entre passado e realidade não digerida. Será que é
inteligível essa crise, de maneira que essa confusão possa ser debatida,
trabalhada e revertida?
E, daí, o ponto principal. Será
que o novo já não se esfrega na nossa cara de forma tão descarada que já seja a
hora de admiti-lo?
Não.
Não sei.
Meu conhecimento se mostrou
insuficiente para interpretar os panoramas. E diante dessa falha, de meus
parâmetros agonizantes, fico assustada e me sinto incapaz. Não que haja
infelicidade ou motivos para um tango argentino. Nenhum desastre. Tudo vai bem.
Só não sei para onde. Só não consigo imaginar o que vem depois da esquina. É a
falta de projeção o que mais nos paralisa. A sensação latente de que não
sabemos mais como construir um ponto de equilíbrio. E mesmo que ele nos seja
dado, entregue pela graça divina, ficamos cônscios de que não sabemos como reconstituí-lo.
Meu caro, é a falta de
onisciência, onipotência e onipresença que me aflige. Descobrir-me humana foi
um dos maiores sustos que vivi recentemente. Porque eu bem que tinha me
esquecido , como que por um lapso, dos elementos-surpresa. E levei uns tapas
na cara, tantos bons quanto ruins: só para me lembrar que eu não sei de quase
nada e vou ficar sem saber. E, sobretudo isso, tive que reassimilar a ideia de
que a falta de controle, não deve me gerar insegurança.
Eu demorei a descobrir que as
nuvens ficavam suspensas no céu. Eu pensava que no teto tinha algo para
suspende-las. Quando me foi dito que nuvens, planetas, luas e tudo mais
gravitavam, isso não me gerou fascínio, mas terror. Constantemente orava e
pedia a Deus que não se esquecesse de segurar a Terra, para que não caíssemos
de tão alto e as nuvens não nos esmagassem. Hoje vejo que meu medo sempre foi o
desmoronamento.
Mas, para quem acredita em
paraíso, o final das contas não é assim tão meia boca. Eu posso dizer que fui
sobrevivente de alguns deslizamentos e vi escoar muitas certezas, mas nunca
nada destruiu tudo. Então. Sabe como é. Vamos ouvir Zeca pagodinho, fazer tatoo de borboleta e confiar
que tudo vai dar certo. Ai ai, Deus, como é difícil não ser Excelsa.
24.7.14
Bonequinha
Eu deveria escrever sobre
política. Habeas corpus, habeas data. Eu deveria escrever sobre cuidados com as
verduras, dentro e fora da geladeira. Eu deveria pensar em escrever uma tese
bombástica salvífica e porreta. Mas não. Só penso em amorzinho. Só penso em
meia no pé, esfregando na canela do outro.
Meu estado de espírito é qualquer
coisa como o sorriso de um velho simpático. Um velho com boina, com roupas
cinzas. E de suéter amarelo, ai-Aconchego gostoso. Venha aqui.
Tenho pensado muito na Tia Nea e
toda vez minha vontade era coloca-la numa caminha de algodão. Queria poder
estrangular os problemas com a força dos meus pensamentos. Mas eu não posso e
ninguém pode. O cabelo não deixará de cair. Mas outro vai crescer. As lágrimas
não deixarão de rolar. Mas os sorrisos serão gigantescos, mal caberão na nossa
cara. A alegria mal caberá no nosso peito. Nós mal caberemos em Ilha Grande.
Seremos tão maiores, seremos todos tão mais fortes.
Se a batalha é anunciada, diga
aos inimigos que lutaremos. E nenhum de nós aqui é sozinho. Que não hesitaremos
em vencer. Que não abriremos mão da esperança. Se a batalha é anunciada, diga a
quem for, que verão um espetáculo. Verão uma gigante nascer. Diga a eles que
verão novos corações paridos.
Avisem a todos que a dor não nos
traz medo. Estamos sossegados, cônscios da nossa força, completamente submersos
em amor. Eu acredito que diante de nós, o medo perde os sentidos. Nós nos
grudamos uns aos outros, emaranhados em consolo.
Depois daquela curva, logo ali.
Logo logo, as palavras vão ter que ser resignificadas para que eu possa
explicar, quão linda foi a jornada, para eu poder lhe explicar o que realmente
quer dizer vitória.
Tia, nós somos teus. E juntos
podemos muito.
16.7.14
Ai, ai ai ai: chegada-hora
Ai, que falta você me faz, passarinho. Aquele sorriso todo
escancarado. Que falta, passarinho. Eu acordo de manhã e lá está você dormindo.
Continuo o dia todo com aquela imagem sonolenta nos meus olhos. Imaginando o
que é que você anda sonhando, se há algo que eu tenha que possa servir. Vira e
mexe a gente se tromba. Às vezes te beijo, às vezes derrubo. Com um amor
estalado feito bola de chiclete.
Ai, que alegria você me faz, meu peixinho dourado. Essa voz
macia, feita de algodão maciço. Que alegria, peixinho. Vejo você nadando pelas
ondas, lambendo o sol do mar, se embolando na espuma. Nessa sua existência
lustrosa, você sempre volta e me conta. Sobre a temperatura da água em uns olhos
inundados.
E você que nem sente saudade, meu amor. Foi parido em linha reta,
sem firulas ou desvios. Se há desejo é porque há, se existe amor, que abunde.
Sim, meu coração, aprende a falar e a entender simplesmente que é hora de ser
feliz.
3.6.14
Elixir
Eu precisava de algum espaço para entender minhas novas dimensões. Por um instante me dei conta de que nada havia mudado. Como se eu tivesse piscado e tivesse adormecido dentro daquele segundo. Dormido e levantado, sonhado em uma faísca de tempo.
Meu personagem favorito estava em seu último trecho: o fim da saga. E eles não se amavam mais. Nunca mais. Ele parecia feliz com o novo desfecho, mas eu não. Parei de achar engraçado. Eu queria que a nova obra fosse a reprise do passado. Mas não. Ele mudou, a mulher o deixou e ele ficou sozinho com uma chinesa. Pra conseguir um visto. Sem lutar para reconquistar o amor daquela que o abandonava. Mas eu estava lá, fincada. Esperando que, ao menos, ambos ficassem sozinhos e tristes. Seria um final feliz. Porque há uma dificuldade absurda em enfrentar novos amores, diante daqueles gigantescos e vultuosos que já conhecíamos. Uma preguiça de viver uma alegria ou qualquer expectativa.
A maturidade traz consigo o desmoronamento do imperativo. Nada é pra já. Sempre e jamais nunca existiram. Não sei se liberta ou intimida a consciência de que é possível amar muitas e muitas vezes. Não sei se consola ou estraga saber que não morreremos de saudade ou por amor ou de amor. Não sei se inquieta ou acalma perceber que a vida é um ciclo e que sobrevivemos a quase tudo.
Digo que sobrevivemos a quase tudo porque muito de nós tomba no caminho. E fica sem ser enterrado, belo caminho, com a boca cheia de terra, com as unhas meio sujas, um vestido roto. A gente morre. Morre aquela ingenuidade de achar que tudo vai dar certo. E começa a entender que tudo pode dar certo. Que não existem garantias, mas que a felicidade está aí para ser mordiscada.
Odiei ver o fim dessa trilogia. A partir de agora, para reve-los preciso repetir as estórias e ver os mesmos diálogos. A gente tem saudade, sem ter condições de perguntar o que mais acontecerá. A gente nem sabe se eles continuam a viver ou se os personagens congelam depois que os créditos sobem. A gente fica sem saber como a vida funciona. É estranho. Muito ruim. Às vezes era até melhor não ter continuação.
Percebo que o fim causa um espanto e uma certa comodidade. Todos os dias somos seduzidos e convidados a nos esvaziar da esperança no eterno.
Pois
bem
acabou
Meu personagem favorito estava em seu último trecho: o fim da saga. E eles não se amavam mais. Nunca mais. Ele parecia feliz com o novo desfecho, mas eu não. Parei de achar engraçado. Eu queria que a nova obra fosse a reprise do passado. Mas não. Ele mudou, a mulher o deixou e ele ficou sozinho com uma chinesa. Pra conseguir um visto. Sem lutar para reconquistar o amor daquela que o abandonava. Mas eu estava lá, fincada. Esperando que, ao menos, ambos ficassem sozinhos e tristes. Seria um final feliz. Porque há uma dificuldade absurda em enfrentar novos amores, diante daqueles gigantescos e vultuosos que já conhecíamos. Uma preguiça de viver uma alegria ou qualquer expectativa.
A maturidade traz consigo o desmoronamento do imperativo. Nada é pra já. Sempre e jamais nunca existiram. Não sei se liberta ou intimida a consciência de que é possível amar muitas e muitas vezes. Não sei se consola ou estraga saber que não morreremos de saudade ou por amor ou de amor. Não sei se inquieta ou acalma perceber que a vida é um ciclo e que sobrevivemos a quase tudo.
Digo que sobrevivemos a quase tudo porque muito de nós tomba no caminho. E fica sem ser enterrado, belo caminho, com a boca cheia de terra, com as unhas meio sujas, um vestido roto. A gente morre. Morre aquela ingenuidade de achar que tudo vai dar certo. E começa a entender que tudo pode dar certo. Que não existem garantias, mas que a felicidade está aí para ser mordiscada.
Odiei ver o fim dessa trilogia. A partir de agora, para reve-los preciso repetir as estórias e ver os mesmos diálogos. A gente tem saudade, sem ter condições de perguntar o que mais acontecerá. A gente nem sabe se eles continuam a viver ou se os personagens congelam depois que os créditos sobem. A gente fica sem saber como a vida funciona. É estranho. Muito ruim. Às vezes era até melhor não ter continuação.
Percebo que o fim causa um espanto e uma certa comodidade. Todos os dias somos seduzidos e convidados a nos esvaziar da esperança no eterno.
Pois
bem
acabou
30.5.14
Cheri
Gostar dele é assim como balançar
no mar. É como se, de um momento para o outro, eu pudesse respirar debaixo d’água.
E fosse andando pelos abismos sem ter medo da respiração estancar. Sem ter medo
dos monstros marinhos. É como uma onda. É como uma lambida. É a pausa.
.
Acordei nua. Armaduras caídas por
todos os lados. Cada presilha aberta era uma libertação, uma escravidão que
tombava. Os pesos saíram se arrastando para longe de mim, levando a dor de
tempos idos. Você beijou meus pensamentos, aconchegou minhas fragilidades no
seu peito. Fiquei aquecida, morna, tranquila. A felicidade veio esbaforida me
dizer que tinha chegado.
Seja bem vindo, meu bem.
8.5.14
Reclame aqui
Foi quando o mal se deu. Uma
fumaça maligna tomou mentes e corações no pequeno vilarejo de JA. Acontece que
Gabriela, uma mulher voraz e barrigudinha, levou todas as chaves da casa,
deixando seus irmãos indefesos na fortaleza. Presos eternamente, de calças
arriadas e muito tristes. Mesmo.
Sor Vaguilmes Nem respondeu
bravamente a este obstáculo, clamando por calma e foco na busca de chaves que
eventualmente abrissem as portas. Vivaninha, ao contrário, se sentia
injustiçada e raivosa. Lamentava efusivamente e desejava vingança. Muita
vingança mesmo.
Vaguilmes proferiu: pularemos o
muro. Vivaninha, que estava com uma saia rosa, achou melhor colocar um short de
academia, para evitar uma sedução em massa no pacato bairro de JA.
Ela primeiro colocou sua bolsa no
patamar. Depois suspendeu um pouquinho a saia. Pediu a Deus que não puxasse
fio. Pé na maçaneta, outro pé no cano. Opa, cuidado que fio desencapado mata.
Mas, justo na hora que voltou seu traseiro em direção à rua, a saia recuou mais
um tantinho. Como que por um golpe do destino sua calcinha começou a se tornar
cada vez mais profunda, num fio dental eletrizante. Suas duas mãos estavam
ocupadas de modo que a sensualidade era inevitável. Um ônibus passou bem nesse
momento, Vivaninha pensou em uma estancada, mas achou que pudesse causar um desequilíbrio
insuperável para a situação. Por fim, conseguiu passar para o outro lado do
muro e deu um salto rumo a sua liberdade.
Ocorre que havia uma velhinha
chocada, que amassava a mãe de uma criancinha sob sua tutela: sem saber se
Vivaninha era assaltante ou descolada. Entre sorrisinhos e desculpinhas, a
Velhinha decidiu pelo descolamento: saiu de perto de Vivaninha.
Humilhada e sozinha, Vivaninha arrumou
sua saia. Aprumou a postura e contou tudo pra Cráudia.
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